quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Invisibilidade, marginalidade e sombra

Nós – seres humanos – somos estranhos.
Na Declaração dos direitos humanos pregamos liberdade, igualdade e fraternidade para todas as pessoas do mundo inteiro indistintamente.
No entanto, algumas pessoas gozam do status silencioso de anonimato, indiferença e/ou invisibilidade social.
Citarei alguns só para começar: doentes mentais, lixeiros, serventes, prisioneiros, pobres, mendigos, homossexuais, negros, estrangeiros, prostitutas, travestis, idosos, enfim, a lista seria enorme.
O que importa é como elegemos essa grande lista e porque.
Certamente essas pessoas e grupos representam muitas sombras que pertencem a toda sociedade como um todo. O única questão que é preciso refletir é no tipo de vida que essas pessoas levam à margem da aceitação social.
Os doentes mentais são abandonados em hospícios, clínicas psiquiátricas e interpretados como louco-varridos. Raramente olhamos para nossa irracionalidade, loucura, e exageros emocionais.
Os lixeiros e serventes carregam nossa sombra de servidão. Essa faceta que resistimos aceitar, pois queremos apenas comandar e receber favores, nunca prestá-los. Não queremos colocar a mão no lixo e na sujeira que produzimos, do mesmo jeito que fazemos com nossos restos mentais.
Os prisioneiros carregam nossa sombra criminosa, violenta, abusadora e transgressora das normas. Quando reabilitados perante a lei nós os rejeitamos na condição humana novamente. Deixamos nossa criminalidade projetada neles.
Os pobres e mendigos ficam num mundo próprio onde a miséria sobrevive da própria miséria. Esse nosso desejo de abdicar de todo o luxo da vida moderna e entregar-se a uma vida nas calçadas. Eis o que projetamos neles.
Os homossexuais que precisam ter uma vida paralela onde possam buscar sua liberdade de expressão amorosa. Constrangidos pelo olhar duro de uma sociedade crítica pudica carregam a sombra de nossos medos frente os desejos desconhecidos.
Os negros carregam toda a carga de ódio pelas diferenças que sentimos. Projetamos numa raça que consideramos inferior. Desumanizamos uma pessoa pela cor para poder olhá-la com desprezo assim como nos sentimos desprezados pelo nosso crítico interno.
As prostitutas e travestis que aliviam as tensões sexuais de uma sociedade machista e hipócrita relega a essas pessoas as esquinas. Muitos as tem como confessoras de suas desilusões pessoais. Mas diante da sociedade são tratadas como uma subcategoria humana.
Os idosos que simbolizariam a sabedoria de uma vida plena são, na verdade, vistos como pesos inoperantes, ranzinzas e repetitivos. Toda o nosso medo de rejeição é jogado sobre os cabelos brancos de “avôzinnhos”.
Marginalizamos os outros para aliviar nosso sentimento de marginalização interior. Ao ignorar e desprezar os outros me sinto menos ignorado. Sinto-me ativo no ato de desprezar e menos humilhado.
No entanto, me torno invisível para mim. Isso é sombra, a nossa invisibilidade interna!

2 comentários:

  1. Ah, desafio sem fim de cuidar do reino dos meus demônios...rs!

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  2. Os demonios internos sao mais horripilantes do que aqueles inventados pela igreja por motivo simples: eles tem a nossa cara! rs

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