sexta-feira, 22 de abril de 2011

Loucos de pedra

____________________________________
Acreditamos nos fantasmas que criamos
____________________________________

Esses dias vi um louco na rua falando sozinho! Ele estava tão convicto do falatório que parei para observar a conversa animada. Era tão estranho que fiquei alguns momentos ali me deliciando com o acontecido. Ok, eu sou um psicólogo maluco.

Curiosamente eu estava passando por uma preocupação nada grave, mas que me roubou alguns momentos de paz habitual. Me dei conta de que em alguma medida eu era tão louco quanto o nobre maltrapilho ambulante.

SOFRIMENTO E FELICIDADE

________________________________________
Você tem privilégios que os outros não têm?
________________________________________

Já reparou que quando vamos consolar alguém e trazer uma solução as pessoas, em sua maioria, sempre rebatem dizendo: “mas acho que você ainda não entendeu o que estou passando...”. Seguem na ladainha por mais meia hora ininterruptamente.

Como psicólogo ouço problemas e queixas diariamente.

Acho que me tornei um especialista no sofrimento humano. Pelo menos em ouvir.

Hoje é sexta-feira santa, um feriado peculiar em que se “comemora” ou lamenta a morte de Jesus. A maneira que encaramos a morte de Jesus como sofrimento fere um pouco minha idéia do que é sofrer.

Acredito que o sofrimento é um sinal de resistência pessoal às mudanças na vida. Pessoas morrem, adoecem, partem para relacionamentos mais felizes, se despedem, saem de empregos ótimos, se machucam, enfim, mudanças acontecem.

Sofrimento é um forte indicador de que teimamos que as coisas permaneçam como estão, paradinhas no mesmo lugar. Lá no fundo é como se quiséssemos perpetuar um bem-estar momentâneo para sempre sem fazer muito esforço.

Aquela necessidade de controle da realidade e a fantasia de que a felicidade nos pertence paralisa nossos sentimentos. Sofremos quando algo muda e fere nossos mais queridos mimos.

O sofrimento é o sinal de que queremos o parente querido, o emprego, o amor eterno conosco, imutável. O sofrimento denuncia nossa vontade de que nada e nem ninguém se movimente para longe de nós. É uma forma de paralisar a vida e a liberdade à nossa volta.

Sofrimento é um estado de paralisia voluntária em que lamentamos (passivos) os nossos reveses. Teimamos em nossas opiniões e reivindicamos direitos especiais “por que eu tenho que passar por isso?”. Oras, por que não você? Você tem privilégios que os outros não têm?

“Sou uma pessoa boa...” rebateriam. Continuo perguntando: por que não você? A bondade é um escudo que impede que uma mudança surja na sua vida? A bondade o protege de uma contrariedade? A bondade é um reforço ao seu sentimento de mimo pessoal?

Acho realmente estranho...

Penso que a felicidade tem muito a ver com movimento, mudança, abertura para a vida que se renova a cada momento, com ou sem a nossa permissão.

Mas sabe por que recuamos diante da felicidade? Porque ela nos assusta e tira do lugar-comum. A felicidade tanto quando o sofrimento é sinal de mudança, mas é a mudança que concordamos em passar.

Felicidade é mudança que aceitamos e sofrimento é aquela que recusamos. Transformar sofrimento em felicidade, portanto é uma mudança de perspectiva sobre as coisas. Ao invés de fechar portas eu abro.

Se, como contam os evangelhos, Jesus permaneceu aberto a cada golpe duro da mudança em sua vida, ele não sofreu. Mudança de perspectiva, só isso.

Felicidade ou sofrimento, qual você escolhe?

Se você estiver f..., pelo menos mantenha um sorriso no rosto! ;)