terça-feira, 19 de outubro de 2010

Presente de aniversário!

Como farei um ano do lançamento do livro "Por que fazemos o mal?" Estarei presenteando algumas pessoas com um livro autografado.
Será um livro para as 5 pessoas que derem a melhor resposta para a pergunta:

POR QUE FAZEMOS O MAL?

Isso deve ser feito até 140 caracteres no meu twitter @fredmattos até o dia 24 de outubro que por acaso também é meu aniversários rsrsrs!
Estarei aguardando as respostas pelo meu twitter, avise os amigos!
Abraços e beijo a todos!

sábado, 16 de outubro de 2010

Os últimos passos de um homem

______________________________

Todos têm um lago de dor dentro de si

______________________________

Acabei de ver pela centésima vez o filme "Os últimos passos de um homem" com as interpretações magistrais de Sean Penn e de Susan Sarandon. Esse filme sempre me toca. Acho que é um filme que retrata de maneira brilhante o verdadeiro confronto com a sombra.

A sombra, dito de outra forma, é a verdade sobre nós que omitimos de nós mesmos e do mundo que nos cerca.

Esse filme retrata a trajetória de redenção de um homem que foi condenado a morte por ser acusado do assassinato de um jovem casal de namorados e o estupro da jovem. Mathew Poncelet (personagem de Sean), jovem perturbado pela ignorância, prepotência e busca de prazer a qualquer custo se confrontado com suas próprias ações destrutivas. Culpa o estado, as pessoas, seu parceiro de crime menos a si mesmo.








Entra na história a personagem de Sarandon a freira Helen que percorre junto com Poncelet uma caminhada de confronto com uma verdade dolorosa. O objetivo inicial dela é fazer com que aquele condenado a morte possa se redimir de seus pecados, como manda a tradição católica.

Quando assume o posto de conselheira espiritual de Poncelet, Helen se vê diante de muito mais dramas que imaginava a início: a dor e ódio dos pais das vítimas, a pressão do governo em relação a pena de morte, a indignação das pessoas frente sua defesa de Poncelet, e a comoçao de toda uma comunidade ressentida com um crime hediondo.

Helen está diante de um embate social, psicológico, religioso e político, mas nenhum se compara com o dilema espiritual que ela enfrenta: como ajudar um homem a obter perdão depois que cometeu um ato de perversidade inimaginável?

Essa questão é profundamente tocante para mim. Pois todos nós carregamos uma parte perversa, outra vitimizada e ainda outra profundamente lúcida e cheia de compaixão.

O filme transcorre num esforço de grande amor por parte de Helen em ajudar um homem a sair da posição de vítima das circunstâncias e confrontar-se com seus atos terríveis a fim de alcançar toda a compaixão por si mesmo, ainda que esmagado pelo peso moral de seu crime.

Todos nós, em algum momento da vida, somos levados a encarar nossas próprias atitudes vis. Perceber que nem todos os nossos gestos são motivados por amor, carinho, respeito e justiça.

Que podemos ser bem cruéis com as pessoas que mais amamos. E que além de autores de dramas sem fim, também saímos chamuscados desses conflitos.

Todos carregam consigo suas cicatrizes. A pessoa que se recusa a olhar para suas marcas torna-se fraca e inexpressiva, e a pessoa que se nega a perceber as feridas que provoca nos outros caminha sem consistência anímica.

Passar pela vida sem marcar ou ser marcado por alguém é uma tentativa ingênua e inócua de viver como uma criança, com uma pureza impotente. São nossas marcas e cicatrizes que nos tornam o que somos. Cada vinco de nosso rosto manifesta os risos e choros que tivemos ao longo do percurso.

Todos têm um lago de dor dentro de si e é importante que não tentemos secar esse lago, sob pena de ter uma vida sem movimento. As cicatrizes também nos pertencem na forma de aprendizado, saudade e superação. Evitar que nunca machuquemos ou sejamos machucados seria escolher por uma vida onde as águas calmas nos deixariam paralisados...

Para um homem enfrentar seus "últimos passos" em direção a morte inevitável é preciso conviver com os cacos daqueles que amamos e odiamos na vida... É essencial suportar os cacos que carregamos de nós mesmos...

A trajetória de Matthew Poncelet no confronto com seus demônios é o retrato mais fiel que já vi de uma pessoa frente suas ações nefastas, ele as encara, assume e aceita as conseqüências dolorosas que as seguem.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

COMER, REZAR E AMAR

_____________________________
Quem sabe encontra aquilo
que quer para ser feliz
_____________________________

Já prevendo o que aconteceria hoje no consultório, tratei de ver (eu e mais um clube de 30 senhoras de mais de 60 anos) o esperado filme COMER, REZAR E AMAR, 80% das pacientes viram o filme e chegaram com um misto de ódio e esperança.
Ódio de seus maridos, namorados ou fantasmas camaradas e com esperança de encontrar um Javier Bardem em suas vidas paralíticas...
Elas me
questionavam que não tinham dinheiro o suficiente para ir à Itália, Índia e Bali e nem a coragem para sair de relacionamentos desgastados, deprimentes e falidos... Palavras delas...
Pensei comigo, "por que esse filme ainda que baseado em história real mexe tanto com as mulheres?".
Cheguei a algumas conclusões: ele retrata uma mesma mulher em diferentes momentos de sua vida afetiva. E isso cria uma identificação imediata com qualquer mulher, seja ela casada, solteira ou enrolada... É a trajetória de queda e ascensão de qualquer mulher.
Obviamente que nenhuma mulher para encontrar a si mesma precisa ir tão longe, afinal, em qualquer lugar que você esteja você sempre estará ali.
Itália, Índia e Bali são pequenas metáforas de uma jornada interior que percorre o feminino.
É preciso comer una pasta delicioza para ser feliz? Ajuda, mas a idéia da Elisabeth Gilbert, autora do livro que deu origem ao filme, é que a mulher precisa aprender a se NUTRIR de si mesma. Saber reconhecer o que alimenta sua alma, dar a si mesma um pouco daquilo que gosta, ao mesmo tempo que oferece seu amor ao companheiro. A mulher ainda hoje se culpa por dar algo a si mesma que traga bem-estar e satisfação, pois acha que é egoísmo.
É preciso meditar horas à fio para ser feliz? Não, mas é preciso aprender a aquietar seus sentimentos e APROFUNDAR-se em seus desejos para ouvir a voz que vem da alma. Pois devido às oscilações hormonais, a mulher deixa-se conduzir pela superfície de ondas torm
entosas e barulhentas de sua impulsividade. Pouco mergulha no oceano de riqueza e força pulsante que carrega dentro de si e se deixa conduzir por um maremoto de nervosismo, inquietude e medo.
É preciso beber até cair em Bali para ser feliz? Não, mas é preciso estar aberta para se ENTREGAR quando o amor passar ao lado. Pois muitas mulheres se queixam de não encontrarem o homem certo, e que eles não prestam. Mas quando se deparam com um homem de coração aberto, amoroso e sincero, muitas se debatem ante essa experiência recuando para medos infantis, agressões sem sentido e ciúmes doentios. Esse medo da entrega pode por à perder o homem dos sonhos...
COMER, REZAR E AMAR para mim representam, SE NUTRIR, APROFUNDAR E ENTREGAR.
Portanto, a Itália que você espera está no gesto de afeto consigo mesma, a Índia que lhe acalma está no silêncio do coração diante de um dilema, e Bali onde você espera encontrar seu príncipe encantado com um barco à sua espera está na chance que der a si mesma para gozar do amor como e quando ele vier...
COMER, REZAR E AMAR estão ao seu alcance logo ali... Olhe para dentro, para o alto e para o lado, quem sabe encontra aquilo que quer para ser feliz...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A dor do amor

_______________________________________________
Se insistem para que eu diga por que o amava,
sinto que isso só pode exprimir-se respondendo:
"porque era ele, porque era eu"

Michel de Montaigne
_______________________________________________

Como tenho recebido muitas perguntas sobre o amor, acho que vou falar da dor de amor...




Por que nos dói tanto a perda de um amor?
Para entender essa dor é preciso que antes eu faça um apontamento sobre o que acredito que acontece, do ponto de vista psíquico, quando amamos alguém.
Todo ser humano traz consigo uma necessidade básica de satisfação dos desejos, absolutamente natural, certo? Devido isso, portanto, estamos sempre num embate entre desejo versus uma realidade que oras nos satisfaz e oras nos frustra internamente.
E nessa tensão constante e na maior parte das vezes inconsciente que se configura a angústia básica de ser humano. De um lado o desejo que visa satisfação e prazer e de outro a realidade que pode corresponder a esse desejo de forma mais ou menos organizada. E digo organizada porque essencialmente nosso inconsciente poderia ser visto como algo caótico e sem direção. Daí a nossa necessidade de criar símbolos psiquicos para organizar e dar sentido à realidade que se configura de forma também caótica e sem significado (essa não é uma visão pessimista da vida). O sentido e significado da vida não existe à priori, mas é construído momento a momento.
O amor por uma pessoa ou objetivo, portanto, é uma forma que encontramos de canalizar nossas energias mentais para um centro organizador que nos ajude a estruturar nosso desejo caótico em uma configuração mais ou menos suportável.
É como se a pessoa amada fosse nos ajudando a configurar parte daquilo que sou pra mim e pra ela. Por exemplo, quando você sente vontade de convidar a pessoa para um passeio, você precisa alinhar seus impulsos internos na direção daquele passeio e aquele vazio psíquico dá lugar a uma sensação de objetivo desejo-passeio-pessoa amada-eu que passeio-satisfação. Aquele passeio-memória fica associado com aquela pessoa daquele jeito ao mesmo tempo que me torna uma pessoa para aquela pessoa daquele jeito. Na medida que aquela pessoa é eu também sou, me mostro na medida que vejo e sou visto. Chamamos isso de sintonia amorosa "nossa eu sinto que te conheço há muito tempo!"
Na verdade na medida que percebo o outro também me revelo ao outro e a mim mesmo. é como se massa e forma se tornassem uma unica e só coisa, sem distinção. Sou massa e forma, a pessoa é massa e forma ao mesmo tempo. Passo a não ser eu apenas, mas eu em função de um outro. Não submisso, mas eu-outro que amo o outro-eu. Entenda mais no sentido filosófico da coisa.
Com o passar do tempo a pessoa amada vai ganhando cada vez mais corpo no meu inconsciente e eu também vou ganhando forma para mim diante desse outro amado. Ou seja, na medida que essa pessoa nasce pra mim eu também nasço pra mim.
Na medida que crio sou criado juntamente. O amor se dá mais ou menos assim... Não sei se soa muito romântico, mas a coisa acontece por aí. É um espelho que reforça o outro espelho.
A dor de amor surge da perda brusca da pessoa amada pela morte (luto), perda do amor (abandono) ou quando perco a imagem ideal de mim mesmo (humilhação).
É como se de um momento para o outro eu perdesse a forma que me dá forma e organiza meus desejos e satisfação. É como se um membro do meu corpo fosse mutilado e eu ainda permanecesse sentindo sua presença ali.
Essa é a sensação de buraco no peito que sentimos quando uma pessoa amada se vai. Nosso caos psíquico é exposto em carne viva. E é exatamente para suprir esse buraco que nossa mente cria uma proteção que ajude a configurar nossos desejos de forma mais ou menos coerente, mesmo sem a presença da pessoa amada. Quando a pessoa morre a sensação de irrealidade é tão absurda que mantemos por um tempo a impressão de que ela voltará a qualquer momento e todo o sonho ruim desaparecerá.
Me lembro que meu pai quando estava chegando em casa sempre balançava o seu molho de chaves do carro e de casa. Quando ele faleceu aos meus 18 anos, vez ou outra quando ouvia algum barulho de chaves de qualquer vizinho, instintivamente eu me postava de tal forma como se meu pai fosse entrar em casa. Como se um pequeno delírio momentâneo se apoderasse de mim, mas que logo era desfeito pela realidade dura de que ele jamais entraria por aquela porta. De que sua risada, seu pigarrear específico (minha mãe diz que pigarreio da mesma forma que ele) e forma afetuosa de me abraçar NUNCA mais existiria para mim. A mente cria uma pequena sutura para suportar uma realidade terrível.
Quando uma pessoa nos deixa essa mesma sensação de abandono precisa ser suprida em forma de hipervalorização. O vazio deixado é preenchido por um gigante psicológico que oscila entre só coisas boas ou só coisas ruins. "Não vivo sem ele" (idealização) oscila com "desgraçado que morra!" (raiva depreciadora), todas elas são formas defensivas de dar um formato para o lugar que antes era ocupado pela pessoa real (que organizava nossos impulsos caóticos). Maximizamos a pessoa amada que se foi para suportar a ausência de nós mesmos em função do outro. Preciso me apegar à uma imagem do outro (ainda que irreal) para poder dar configuração a mim mesmo. A dor de amor é uma defesa para que nossa mente não se rompa numa loucura sem sentido (que é a partida súbita da pessoa amada, justificada ou não).
Por isso que enquanto há dor de amor, há sinal de vida, de que nossa mente está se reconfigurando e se reposicionando para direcionar seus impulsos caóticos numa outra direção. É uma forma de manter viva a imagem mental do desaparecido, e também a própria imagem interna.
Mudar de objeto de amor é uma boa saída, como dizem? Para esquecer um amor basta encontrar outro?
Na realidade não é possível um novo amor se um amor antigo não tiver o seu lugar.
Certa vez atendi um homem deprimido e que havia perdido seu filho num aborto provocado (na época justificado por imaturidade, falta de recursos) e que não conseguia se doar para seu filho que acabara de nascer. Em um dado momento da terapia eu disse a ele: "eu gosto de pensar que seu filho que nasceu adoraria estar sendo cuidado pelo irmão mais velho dele que não pôde vir ao mundo"
O rosto desse homem se iluminou e algo libertador aconteceu dentro dele. Ele pôde dar um lugar para seu primeiro filho e enxergá-lo como uma pessoa e não um "aborto-culpa". Seu coração foi preenchido pela existência de seu primeiro filho e somente à partir daí ele conseguiu um lugar para o segundo filho.
Da mesma forma no amor romântico, simplesmente tentar esquecer e enterrar uma pessoa e substituí-la por outra fará desastrosamente que essa segunda pessoa não tenha um espaço real.
A imagem do amor perdido não pode se apagar, mas sim se esgotar; a ponto do amor pelo antigo coexista com o amor pelo novo. Quando isso surge a pessoa saberá que o amor pelo novo nunca abolirá o amor pelo antigo.
Isso quer dizer que um novo amor só tem espaço genuíno se o amor pelo antigo for legitimamente reconhecido.
Mas nossa cultura coletivo sobre o amor não permite que sequer possamos sentir carinho e gratidão por uma pessoa à quem amamos no passado sob pena de ser alvo de um ciúme retroativo.
Mas na lógica psíquica o segundo só tem lugar efetivo se reconhecer que houve um primeiro. Nossa mente é sempre inclusiva e não permite exclusões.
Portanto, é preciso suportar um trabalho de luto considerável para que o amor fraturado decante em nosso interior à fim de nos devolver ao caos inicial que vá em busca de uma nova configuração em torno de outra pessoa amada.
Fácil? Simples? Prazeroso? Claro que não...
Pois é extremamente penoso ouvir uma música, ir à um lugar, ouvir pelo nome, sentir um toque sem associar imediatamente à pessoa amada que já não mais existe de fato ao nosso lado. Mas nessa dor que decanta lentamente que se revela suavemente uma outra faceta de minha própria identidade, agora transfigurada.
Muito complicado? Vá fazendo mais perguntas nos comentários ou no meu formspring http://www.formspring.me/fredericomattos