segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Por que o Capitão Nascimento virou nosso herói nacional?

Após ler a matéria da revista “Veja” comecei a meditar do por quê o capitão Nascimento, personagem principal dos filmes “Tropa de Elite 1” e “Tropa de Elite 2” causou uma comoção psicológica tão grande no povo brasileiro.

Cheguei a algumas conclusões interessantes.

Primeiro, o raciocínio mais óbvio e clássico é: porque o Capitão Nascimento personifica a imagem do homem que não se corrompe por nada e que luta, ainda que sob pena de perder algo de si mesmo, contra a injustiça e impunidade. Mesmo usando métodos pouco ortodoxos e que seriam repreendidos em outro contexto. Ele fere a regra e a moral para lutar por princípios que o brasileiro considera pouco eficientes no cenário brasileiro, excesso de burocracia e impunidade legal. Com um tiro ou com uma denúncia ele desbanca o bandido da rua ou de colarinho branco.

Mas essa análise já está bem colocada por todos os lugares. Pessoalmente, essa comoção emocional também me cativou e saí pego em meus pensamentos do cinema. Ele também virou meu herói por muitos dias. Porém, quero seguir um pouco mais adiante com o raciocínio.

No consultório psicológico, percebo que o que mais aflige as pessoas, principalmente em nossos tempos pós-modernos, é que já não há nenhuma estrutura institucional e social (como a família, a igreja e o estado) que determine de maneira totalitária, absoluta e inquestionável os parâmetros que precisamos seguir. Não podemos dizer que uma só forma de pensamento religioso, partidário ou regra familiar define nossas ações com garantia total.

Frases como “o que meu pai fala eu faço, porque ai de mim se não fizer!” ou “o padre falou no sermão de domingo, então é bom seguir, pois Deus está olhando tudo” já não fazem mais parte do imaginário cotidiano. Ser tradicional e conservador é motivo de vergonha. E confesso, que nesses moldes antigos e rígidos, devem ser deixados de lado mesmo.

Mas o excesso de liberdade e opções que podemos seguir hoje (mudar de carreira, marido, país, religião) trouxe um benefício que, em nossa imaturidade emocional, causou um colapso cotidiano. NÃO SABEMOS LIDAR COM A LIBERDADE. Por que a liberdade necessariamente vem acompanhada de assumir a responsabilidade das conseqüências de cada ato. Sou livre, ótimo, grande coisa, mas a cada ação livre fico imediatamente preso em cada conseqüência dela. A liberdade me confronta comigo mesmo. Quanto mais livre, mais dono de minha ações sou e, portanto, não tenho mais como culpar meu pai, o padre ou o prefeito por nada na minha vida.

Se você machuca alguém que ama, leva um dinheiro por baixo da mesa, pula cerca, abandona seus pais idosos, agride e negligencia seus filhos, prioriza acumular bens e abrir mão de princípios de vida, enfim, toda sorte de pequenos “delitos” cotidianos, é a você e só a você mesmo que cabem as conseqüências.

Não foi o padre que pulou a sua cerca, o presidente que humilhou seus filhos ou seu pai que aceitou propina, foi você.

O artista da novela que bate na esposa, não diminui o fato de que você trata sua esposa como se fosse uma coisa ou seu marido como se fosse um imprestável. É você que faz isso, ainda que o artista faça.

Meu segundo argumento, portanto, é que o Capitão Nascimento com sua determinação e idealismo moral suspende (teoricamente) a nossa sensação de ambigüidade emocional. Aquela idéia de que não faço aquilo que sinto ou penso, de que sou incoerente, cai por terra com o líder fictício do Bope. Sou apenas um homem que deseja à justiça custe o que custar.

Na realidade somos bem diferentes. O cara ama a esposa, mas transa com a secretária. Ela ama o marido, mas prefere comprar uma jóia. Ele prega espírito de equipe, mas suga o sangue dos funcionários até onde pode. Ela prega moral, mas adora falar mal de todo mundo como se fossem a escória da humanidade.

SOMOS CONTRADITÓRIOS POR NATUREZA. Somo esquisitos, pendemos para os dois lados e agimos de forma ambivalente a todo o momento. Para onde pender nosso prazer, desejo de satisfação imediata e necessidade de se sobrepor aos outros ali estará nossa ação, ainda que seja contrária ao que falamos no minuto anterior.

“Fred, você está dizendo que nos vendemos fácil e que não devemos acreditar em ninguém?” Com certeza é essa a frase que vou ouvir de alguns, e já respondo. Sim, nos vendemos fácil, concordando ou não com isso. Basta um pouco de dor de um lado e um pouco de prazer à curto prazo de outro que descambamos para o prazer à curto prazo. E se suportamos a dor de um lado é só para nos sentir moralmente superiores aos outros, ou seja, apelamos ao desejo de poder e superioridade moral, invisível, mas igualmente saboroso. O sujeito não comete erros, não porque seja o correto, mas só para se vangloriar que não erra e assim continuar falando mal do vizinho. Podre do mesmo jeito.

Queremos banir a hipocrisia e a falsidade de perto de nós, mas somos profundamente hipócritas no cotidiano. E confiar ou não nos outros é sempre um risco que decidimos correr ou não, dependendo do que desejamos para nossa vida.

O psicólogo, como o padre de antigamente, ouve confissões inimagináveis. Ouço pessoas que são vistas pelo público como irrepreensíveis confessarem grandes “fraquezas” no consultório. Eu pessoalmente acho de uma coragem e força essa confissão, apoio a pessoa que quer olhar pra si mesma com honestidade absoluta. É doloroso olhar para si mesmo com esse grau de detalhe. Assumir que é incoerente (que aquilo que prego não é aquilo que falo) soa pra mim como uma das atitudes mais honrosas de uma pessoa.

Por fim, o terceiro ponto é, que o Capitão Nascimento, representa aquilo que gostaríamos de ser, mas não somos: coerentes. Mesmo quando ele mata, ele é coerente com uma meia dúzia de valores (não estou questionando ou concordando com a validade ou moralidade disso) que traz dentro de si. Ele quer acabar com o crime de rua, portanto, mata o agente do crime, o bandido. Quer encontrar um bandido perigoso, portanto, tortura outro bandido informante. Ele quer denunciar a corrupção de um sistema, portanto, delata os nomes e datas dos autores sob pena de ser expulso da corporação. Ele é coerente dentro da lógica dele.

Ao passo que nós, somos bem incoerentes, pregamos o amor e fazemos uma guerra dentro de casa, desejamos a humildade, mas nossa opinião sempre tem que fechar o assunto.

“Mas Fred, afinal devemos ser coerentes ou incoerentes?”

Não tenho a resposta pra isso, pois isso seria me colocar como juiz de um dilema universal e antigo. Mas gostaria com esse texto dizer que, dentro de nós habita uma série de estrelas que norteiam nossos caminhos morais, mas também habita uma bússola quebrada que busca satisfação dos mais suculentos de nossos desejos imediatos.

E que ser humano e maduro, é acima de tudo, assumir que desejamos a paz, mas nem tanto, queremos o amor, mas com moderação, a fidelidade é correta, mas com questionamentos. Que haja um caminho que desejo seguir sem deixar de admitir que também gosto de atalhos escusos. Que quero ser bom, mas nem sempre. Enfim, que é bem provável que o mundo encantado, sem a presença do mal, seja um conto de fadas impossível, e que afinal de contas, sou o lobo mau, a chapeuzinho e a vovózinha coabitando no mesmo corpo.

E só considerando que a presença do mal está bem próxima de mim e em mim que posso ser realmente humano...

Diante disso, enfrente a realidade ou PEDE PRA SAIR!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Presente de aniversário!

Como farei um ano do lançamento do livro "Por que fazemos o mal?" Estarei presenteando algumas pessoas com um livro autografado.
Será um livro para as 5 pessoas que derem a melhor resposta para a pergunta:

POR QUE FAZEMOS O MAL?

Isso deve ser feito até 140 caracteres no meu twitter @fredmattos até o dia 24 de outubro que por acaso também é meu aniversários rsrsrs!
Estarei aguardando as respostas pelo meu twitter, avise os amigos!
Abraços e beijo a todos!

sábado, 16 de outubro de 2010

Os últimos passos de um homem

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Todos têm um lago de dor dentro de si

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Acabei de ver pela centésima vez o filme "Os últimos passos de um homem" com as interpretações magistrais de Sean Penn e de Susan Sarandon. Esse filme sempre me toca. Acho que é um filme que retrata de maneira brilhante o verdadeiro confronto com a sombra.

A sombra, dito de outra forma, é a verdade sobre nós que omitimos de nós mesmos e do mundo que nos cerca.

Esse filme retrata a trajetória de redenção de um homem que foi condenado a morte por ser acusado do assassinato de um jovem casal de namorados e o estupro da jovem. Mathew Poncelet (personagem de Sean), jovem perturbado pela ignorância, prepotência e busca de prazer a qualquer custo se confrontado com suas próprias ações destrutivas. Culpa o estado, as pessoas, seu parceiro de crime menos a si mesmo.








Entra na história a personagem de Sarandon a freira Helen que percorre junto com Poncelet uma caminhada de confronto com uma verdade dolorosa. O objetivo inicial dela é fazer com que aquele condenado a morte possa se redimir de seus pecados, como manda a tradição católica.

Quando assume o posto de conselheira espiritual de Poncelet, Helen se vê diante de muito mais dramas que imaginava a início: a dor e ódio dos pais das vítimas, a pressão do governo em relação a pena de morte, a indignação das pessoas frente sua defesa de Poncelet, e a comoçao de toda uma comunidade ressentida com um crime hediondo.

Helen está diante de um embate social, psicológico, religioso e político, mas nenhum se compara com o dilema espiritual que ela enfrenta: como ajudar um homem a obter perdão depois que cometeu um ato de perversidade inimaginável?

Essa questão é profundamente tocante para mim. Pois todos nós carregamos uma parte perversa, outra vitimizada e ainda outra profundamente lúcida e cheia de compaixão.

O filme transcorre num esforço de grande amor por parte de Helen em ajudar um homem a sair da posição de vítima das circunstâncias e confrontar-se com seus atos terríveis a fim de alcançar toda a compaixão por si mesmo, ainda que esmagado pelo peso moral de seu crime.

Todos nós, em algum momento da vida, somos levados a encarar nossas próprias atitudes vis. Perceber que nem todos os nossos gestos são motivados por amor, carinho, respeito e justiça.

Que podemos ser bem cruéis com as pessoas que mais amamos. E que além de autores de dramas sem fim, também saímos chamuscados desses conflitos.

Todos carregam consigo suas cicatrizes. A pessoa que se recusa a olhar para suas marcas torna-se fraca e inexpressiva, e a pessoa que se nega a perceber as feridas que provoca nos outros caminha sem consistência anímica.

Passar pela vida sem marcar ou ser marcado por alguém é uma tentativa ingênua e inócua de viver como uma criança, com uma pureza impotente. São nossas marcas e cicatrizes que nos tornam o que somos. Cada vinco de nosso rosto manifesta os risos e choros que tivemos ao longo do percurso.

Todos têm um lago de dor dentro de si e é importante que não tentemos secar esse lago, sob pena de ter uma vida sem movimento. As cicatrizes também nos pertencem na forma de aprendizado, saudade e superação. Evitar que nunca machuquemos ou sejamos machucados seria escolher por uma vida onde as águas calmas nos deixariam paralisados...

Para um homem enfrentar seus "últimos passos" em direção a morte inevitável é preciso conviver com os cacos daqueles que amamos e odiamos na vida... É essencial suportar os cacos que carregamos de nós mesmos...

A trajetória de Matthew Poncelet no confronto com seus demônios é o retrato mais fiel que já vi de uma pessoa frente suas ações nefastas, ele as encara, assume e aceita as conseqüências dolorosas que as seguem.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

COMER, REZAR E AMAR

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Quem sabe encontra aquilo
que quer para ser feliz
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Já prevendo o que aconteceria hoje no consultório, tratei de ver (eu e mais um clube de 30 senhoras de mais de 60 anos) o esperado filme COMER, REZAR E AMAR, 80% das pacientes viram o filme e chegaram com um misto de ódio e esperança.
Ódio de seus maridos, namorados ou fantasmas camaradas e com esperança de encontrar um Javier Bardem em suas vidas paralíticas...
Elas me
questionavam que não tinham dinheiro o suficiente para ir à Itália, Índia e Bali e nem a coragem para sair de relacionamentos desgastados, deprimentes e falidos... Palavras delas...
Pensei comigo, "por que esse filme ainda que baseado em história real mexe tanto com as mulheres?".
Cheguei a algumas conclusões: ele retrata uma mesma mulher em diferentes momentos de sua vida afetiva. E isso cria uma identificação imediata com qualquer mulher, seja ela casada, solteira ou enrolada... É a trajetória de queda e ascensão de qualquer mulher.
Obviamente que nenhuma mulher para encontrar a si mesma precisa ir tão longe, afinal, em qualquer lugar que você esteja você sempre estará ali.
Itália, Índia e Bali são pequenas metáforas de uma jornada interior que percorre o feminino.
É preciso comer una pasta delicioza para ser feliz? Ajuda, mas a idéia da Elisabeth Gilbert, autora do livro que deu origem ao filme, é que a mulher precisa aprender a se NUTRIR de si mesma. Saber reconhecer o que alimenta sua alma, dar a si mesma um pouco daquilo que gosta, ao mesmo tempo que oferece seu amor ao companheiro. A mulher ainda hoje se culpa por dar algo a si mesma que traga bem-estar e satisfação, pois acha que é egoísmo.
É preciso meditar horas à fio para ser feliz? Não, mas é preciso aprender a aquietar seus sentimentos e APROFUNDAR-se em seus desejos para ouvir a voz que vem da alma. Pois devido às oscilações hormonais, a mulher deixa-se conduzir pela superfície de ondas torm
entosas e barulhentas de sua impulsividade. Pouco mergulha no oceano de riqueza e força pulsante que carrega dentro de si e se deixa conduzir por um maremoto de nervosismo, inquietude e medo.
É preciso beber até cair em Bali para ser feliz? Não, mas é preciso estar aberta para se ENTREGAR quando o amor passar ao lado. Pois muitas mulheres se queixam de não encontrarem o homem certo, e que eles não prestam. Mas quando se deparam com um homem de coração aberto, amoroso e sincero, muitas se debatem ante essa experiência recuando para medos infantis, agressões sem sentido e ciúmes doentios. Esse medo da entrega pode por à perder o homem dos sonhos...
COMER, REZAR E AMAR para mim representam, SE NUTRIR, APROFUNDAR E ENTREGAR.
Portanto, a Itália que você espera está no gesto de afeto consigo mesma, a Índia que lhe acalma está no silêncio do coração diante de um dilema, e Bali onde você espera encontrar seu príncipe encantado com um barco à sua espera está na chance que der a si mesma para gozar do amor como e quando ele vier...
COMER, REZAR E AMAR estão ao seu alcance logo ali... Olhe para dentro, para o alto e para o lado, quem sabe encontra aquilo que quer para ser feliz...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A dor do amor

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Se insistem para que eu diga por que o amava,
sinto que isso só pode exprimir-se respondendo:
"porque era ele, porque era eu"

Michel de Montaigne
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Como tenho recebido muitas perguntas sobre o amor, acho que vou falar da dor de amor...




Por que nos dói tanto a perda de um amor?
Para entender essa dor é preciso que antes eu faça um apontamento sobre o que acredito que acontece, do ponto de vista psíquico, quando amamos alguém.
Todo ser humano traz consigo uma necessidade básica de satisfação dos desejos, absolutamente natural, certo? Devido isso, portanto, estamos sempre num embate entre desejo versus uma realidade que oras nos satisfaz e oras nos frustra internamente.
E nessa tensão constante e na maior parte das vezes inconsciente que se configura a angústia básica de ser humano. De um lado o desejo que visa satisfação e prazer e de outro a realidade que pode corresponder a esse desejo de forma mais ou menos organizada. E digo organizada porque essencialmente nosso inconsciente poderia ser visto como algo caótico e sem direção. Daí a nossa necessidade de criar símbolos psiquicos para organizar e dar sentido à realidade que se configura de forma também caótica e sem significado (essa não é uma visão pessimista da vida). O sentido e significado da vida não existe à priori, mas é construído momento a momento.
O amor por uma pessoa ou objetivo, portanto, é uma forma que encontramos de canalizar nossas energias mentais para um centro organizador que nos ajude a estruturar nosso desejo caótico em uma configuração mais ou menos suportável.
É como se a pessoa amada fosse nos ajudando a configurar parte daquilo que sou pra mim e pra ela. Por exemplo, quando você sente vontade de convidar a pessoa para um passeio, você precisa alinhar seus impulsos internos na direção daquele passeio e aquele vazio psíquico dá lugar a uma sensação de objetivo desejo-passeio-pessoa amada-eu que passeio-satisfação. Aquele passeio-memória fica associado com aquela pessoa daquele jeito ao mesmo tempo que me torna uma pessoa para aquela pessoa daquele jeito. Na medida que aquela pessoa é eu também sou, me mostro na medida que vejo e sou visto. Chamamos isso de sintonia amorosa "nossa eu sinto que te conheço há muito tempo!"
Na verdade na medida que percebo o outro também me revelo ao outro e a mim mesmo. é como se massa e forma se tornassem uma unica e só coisa, sem distinção. Sou massa e forma, a pessoa é massa e forma ao mesmo tempo. Passo a não ser eu apenas, mas eu em função de um outro. Não submisso, mas eu-outro que amo o outro-eu. Entenda mais no sentido filosófico da coisa.
Com o passar do tempo a pessoa amada vai ganhando cada vez mais corpo no meu inconsciente e eu também vou ganhando forma para mim diante desse outro amado. Ou seja, na medida que essa pessoa nasce pra mim eu também nasço pra mim.
Na medida que crio sou criado juntamente. O amor se dá mais ou menos assim... Não sei se soa muito romântico, mas a coisa acontece por aí. É um espelho que reforça o outro espelho.
A dor de amor surge da perda brusca da pessoa amada pela morte (luto), perda do amor (abandono) ou quando perco a imagem ideal de mim mesmo (humilhação).
É como se de um momento para o outro eu perdesse a forma que me dá forma e organiza meus desejos e satisfação. É como se um membro do meu corpo fosse mutilado e eu ainda permanecesse sentindo sua presença ali.
Essa é a sensação de buraco no peito que sentimos quando uma pessoa amada se vai. Nosso caos psíquico é exposto em carne viva. E é exatamente para suprir esse buraco que nossa mente cria uma proteção que ajude a configurar nossos desejos de forma mais ou menos coerente, mesmo sem a presença da pessoa amada. Quando a pessoa morre a sensação de irrealidade é tão absurda que mantemos por um tempo a impressão de que ela voltará a qualquer momento e todo o sonho ruim desaparecerá.
Me lembro que meu pai quando estava chegando em casa sempre balançava o seu molho de chaves do carro e de casa. Quando ele faleceu aos meus 18 anos, vez ou outra quando ouvia algum barulho de chaves de qualquer vizinho, instintivamente eu me postava de tal forma como se meu pai fosse entrar em casa. Como se um pequeno delírio momentâneo se apoderasse de mim, mas que logo era desfeito pela realidade dura de que ele jamais entraria por aquela porta. De que sua risada, seu pigarrear específico (minha mãe diz que pigarreio da mesma forma que ele) e forma afetuosa de me abraçar NUNCA mais existiria para mim. A mente cria uma pequena sutura para suportar uma realidade terrível.
Quando uma pessoa nos deixa essa mesma sensação de abandono precisa ser suprida em forma de hipervalorização. O vazio deixado é preenchido por um gigante psicológico que oscila entre só coisas boas ou só coisas ruins. "Não vivo sem ele" (idealização) oscila com "desgraçado que morra!" (raiva depreciadora), todas elas são formas defensivas de dar um formato para o lugar que antes era ocupado pela pessoa real (que organizava nossos impulsos caóticos). Maximizamos a pessoa amada que se foi para suportar a ausência de nós mesmos em função do outro. Preciso me apegar à uma imagem do outro (ainda que irreal) para poder dar configuração a mim mesmo. A dor de amor é uma defesa para que nossa mente não se rompa numa loucura sem sentido (que é a partida súbita da pessoa amada, justificada ou não).
Por isso que enquanto há dor de amor, há sinal de vida, de que nossa mente está se reconfigurando e se reposicionando para direcionar seus impulsos caóticos numa outra direção. É uma forma de manter viva a imagem mental do desaparecido, e também a própria imagem interna.
Mudar de objeto de amor é uma boa saída, como dizem? Para esquecer um amor basta encontrar outro?
Na realidade não é possível um novo amor se um amor antigo não tiver o seu lugar.
Certa vez atendi um homem deprimido e que havia perdido seu filho num aborto provocado (na época justificado por imaturidade, falta de recursos) e que não conseguia se doar para seu filho que acabara de nascer. Em um dado momento da terapia eu disse a ele: "eu gosto de pensar que seu filho que nasceu adoraria estar sendo cuidado pelo irmão mais velho dele que não pôde vir ao mundo"
O rosto desse homem se iluminou e algo libertador aconteceu dentro dele. Ele pôde dar um lugar para seu primeiro filho e enxergá-lo como uma pessoa e não um "aborto-culpa". Seu coração foi preenchido pela existência de seu primeiro filho e somente à partir daí ele conseguiu um lugar para o segundo filho.
Da mesma forma no amor romântico, simplesmente tentar esquecer e enterrar uma pessoa e substituí-la por outra fará desastrosamente que essa segunda pessoa não tenha um espaço real.
A imagem do amor perdido não pode se apagar, mas sim se esgotar; a ponto do amor pelo antigo coexista com o amor pelo novo. Quando isso surge a pessoa saberá que o amor pelo novo nunca abolirá o amor pelo antigo.
Isso quer dizer que um novo amor só tem espaço genuíno se o amor pelo antigo for legitimamente reconhecido.
Mas nossa cultura coletivo sobre o amor não permite que sequer possamos sentir carinho e gratidão por uma pessoa à quem amamos no passado sob pena de ser alvo de um ciúme retroativo.
Mas na lógica psíquica o segundo só tem lugar efetivo se reconhecer que houve um primeiro. Nossa mente é sempre inclusiva e não permite exclusões.
Portanto, é preciso suportar um trabalho de luto considerável para que o amor fraturado decante em nosso interior à fim de nos devolver ao caos inicial que vá em busca de uma nova configuração em torno de outra pessoa amada.
Fácil? Simples? Prazeroso? Claro que não...
Pois é extremamente penoso ouvir uma música, ir à um lugar, ouvir pelo nome, sentir um toque sem associar imediatamente à pessoa amada que já não mais existe de fato ao nosso lado. Mas nessa dor que decanta lentamente que se revela suavemente uma outra faceta de minha própria identidade, agora transfigurada.
Muito complicado? Vá fazendo mais perguntas nos comentários ou no meu formspring http://www.formspring.me/fredericomattos

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Recados

Gostaria de passar dois recados para aqueles que acompanham meu trabalho...

O primeiro é que me desliguei do meu querido Instituto Evoluir como profissional e agora estou com consultório em outro lugar...
O endereço é Rua Paulistania número 637, próximo ao metrô Vila Madalena.

Para quem quiser mais informações é só enviar para o e-mail fasom1@yahoo.com.br
O segundo é que meu formspring.me está virando um espaço divertido para você fazer suas perguntas sobre tudo o que quiser saber...
Entre, se divirta e se instrua!

http://www.formspring.me/fredericomattos

Um abraço a todos e continuem acompanhando o blog (sei que está meio paradinho, mas são muitas mudanças né?)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Segunda vez




Há coisas na vida que simplesmente não se repetem, portanto há que se deixar entregar sem dó e nem medo...
Você nunca mais terá dois aniversários de 23 anos
Nunca mais terá um segundo primeiro beijo
Nunca mais terá um segundo primeiro amigo de infância
Nunca mais terá um segundo natal na casa da vó com 7 anos de idade
Nunca mais terá um segundo primeiro medo de fantasma na casa vazia
Nunca mais terá uma segunda primeira desilusão amorosa
Nunca mais terá um segundo abraço de consolo num dia de inverno
Nunca mais terá uma segunda chance de se despedir de alguém que partiu
Nunca mais terá um segundo primeiro filho
Nunca mais terá um segundo primeiro carro usado
Nunca mais terá um segundo frio na barriga pelo primeiro emprego
Nunca mais terá um segundo soluço de rir de nada importante
Nunca mais terá um segundo adeus sentido da mãe que sai para trabalhar
Nunca mais terá um segundo comichão por causa de carrapato no meio do campo
Nunca mais terá uma segunda queda desprevinida em agua de riacho gelada
Nunca mais terá um segundo momento para pensar que é a primeira coisa daquilo que está fazendo
E se parar para pensar nada é a segunda vez... Tudo é a primeira e única.
Não deixe que seus olhos se acostumem e seu coração se anestesie diante de toda primeira vez na vida que é definitivamente a primeira a todo o momento...
Não guarde felicidade para amanhã, pois ela não se submete a nenhuma poupança espiritual...
Felicidade só existe aqui e agora...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Feliz aniversário



Gostaria de agradecer a todos por esse primeiro ano do blog...
A todos que acompanharam esse ano e divulgaram, opinaram, acompanharam de longe... Sem vocês eu não ficaria motivado a escrever...
Feliz aniversário ao blog e vocês todos!

sábado, 15 de maio de 2010

A busca da perfeição e o canto das sereias

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É pagar um preço alto
para se viver infeliz
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Hoje em dia somos confrontados com uma busca constante pela perfeição. A mídia refletindo uma ânsia coletiva e ideal cria uma demanda incomparávelpor excelência profissional, ética, corporal, intelectual, financeira e outras.
O desejo de perfeição que sempre foi humano, na atualidade, assume ares desumanos. A busca pelo corpo e a saúde perfeitas com numa briga constante conduzem pessoas a tratamentos e procedimentos médicos exagerados.
Na clínica me deparo com pessoas de todos os tipos, algumas mais e outras menos bem-sucedidas e, no entanto, quase todas insatisfeitas.
O que levaria uma pessoa bonita, com dinheiro, status e prestígio social sentir-se infeliz mesmo com tudo o que tem?
Certamente é o nível de expectativa que nutre em relação à vida.
Se a perfeição é a meta, a insatisfação crônica é o resultado.
Muitas pessoas dizem "busco a perfeição, apesar de saber que ela é inatingível"
Isso me faz lembrar a lenda do herói grego Ulisses na Odisséia, quando retorna para casa depois da Guerra de Tróia após dez anos de luta.
Entre tantos inimigos e criaturas que ele precisa enfrentar, além da fúria dos deuses, uma em especial me chamou a atenção.
Ele foi avisado que perto da Ilha de Capri enfrentaria o canto das sereias. Mulheres muito bonitas tentariam, com seu canto, atrair os marinheiros para o fundo do mar a fim de devorá-los.

Ulisses tomou uma sábia decisão, pediu que o amarrassem ao mastro do navio para que resistisse à tentação de ir ao encontro delas. Quanto aos marinheiros, colocou cera em seus ouvidos para que não ouvissem o canto das doces e terríveis criaturas do mar.
Alguns aceitaram e sobreviveram, outros se recusaram e foram engolidos pela sua prepotência.
Penso que a busca da perfeição é como o canto das sereias. Mulheres lindas e apetitosas que se revelam incapacitadas de oferecer o gozo que os marinheiros procuram, ou seja, inalcançável.
A ilusão de que poderiam dar prazer ilimitado é substituida por morte por afogamento ou devoramento.
A busca da perfeição nos conduz ao mesmo. Quantas vezes nos atiramos numa busca fantástica por um comportamento exemplar, não-humano e inatingível e nos devoramos por dentro com autoacusações de incompetência?
Ulisses passa pela tentação mais dolorosa, pois se permite experimentar o canto, vislumbra o paraíso de perto, mas resiste. Ele procura se fixar no princípio de realidade e saber que aquela promessa de prazer ilimitado é uma doce ilusão.
Estamos em nossa odisséia como Ulisses, seremos tentados por exigências internas de deleites sem fim. Oras estaremos amarrados à realidade, oras surdos pelas ceras da negação. Também podemos sucumbir ao poder dos deuses e ser devorados.
Mas buscar o inatingível é pagar um preço alto para se viver infeliz com aquilo que não é, por que não é possível que seja.
A cura dessa maldição é estar firme no mastro de aceitar o que é como é. Aceitar a nossa condição humana que busca a transformação e abdica da perfeição, que não existe... Pois é a ausência de movimento, antítese da própria vida que se movimenta sempre!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Liberdade

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Está condenado a ser livre e
assumir as conseqüências para si
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Eu ouço com muita frequencia as pessoas que eu atendo dizerem que não vivem sem sua liberdade...
Eu me pergunto nessas horas, o que essa pessoa realmente está querendo dizer com liberdade?
A imagem q vêm à mente é da pessoa numa moto com cabelo ao vento...
Liberdade enquanto busca de aventura... Essa é a imagem comum...
Não compartilho dessa visão de liberdade.

A liberdade é antes de tudo uma condição humana intransferível.
É a condição para que tudo se manifeste nesse espaço desconhecido da existência humana. É poder escolher entre muitos caminhos...
Portanto se alguém diz “eu não quero isso” antes é preciso que perceba se consegue ou pode fazer isso. Pois dizer que não quer só é possível diante da possibilidade de escolha. “Escolho estar sozinha!”, ouço muito isso no consultório. Rebato dizendo, se quisesse ser diferente conseguiria? O silêncio responde negativamente, então replico, não é uma escolha livre, é uma condição da qual você não consegue ou quer se libertar. Você está presa na sua falta escolha livre, portanto, não livre.
Para ter uma livre escolha é preciso também ter clareza do que se escolhe e do que se quer. Sem isso é improvável que a escolha seja realmente livre de determinantes sociais e entulhos psicológicos infantis.
A vontade humana que define o que escolhemos também assume uma multiplicidade de caminhos que nem sempre estão postos de maneira simples. Portanto, nossa vontade não é livre...
Diante dessa posição da idéia de liberdade vivemos um paradoxo. Somos incondicionalmente livres numa inconsciência e inabilidade de nossa liberdade.
Isso provoca angústia, pois está condenado a ser livre e assumir as conseqüências para si de suas atitudes. Sem autonomia e responsabilidade a liberdade nada mais é que um espaço psíquico de movimentação sem sentido na vida.
Pode-se passar uma vida inteira atribuindo a culpa de todos os problemas aos outros, mas até para isso teremos que admitir que escolhemos não escolher...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fácil amar, difícil ser amado

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Em torno da dor criamos barreiras e
medos que nos assombram
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Você já ouviu alguém lhe confessar? "Eu gosto de uma pessoa que não gosta de mim, e aquela outra que gosta de mim eu não gosto!"
Eu ouço isso o tempo todo na clínica.

E durante anos esse assunto me intrigou "por que presamos quem nos despreza e desprezamos quem nos presa".
Durante um atendimento nessa semana consegui formular melhor meus pensamentos. Vou tentar colocar essas idéias que venho elaborando há anos...
Noto que desejamos ser amados e importantes para alguém. Isso é até obvio. Mas porque exatamente no momento que somos amados algo dentro de nós nos paralisa? E por que gostamos de alguém no exato momento em que nos sintimos rejeitados e isso até intensifica o desejo?
Bem, vamos por parte.
Esse sentimento de amor interrompido é vivido pela primeira vez na relação com os pais. É o primeiro amor proibido e que nos é negado pela cultura, não podemos concretizar nossa intenção amorosa com os pais. A não ser no plano da idealização.
Essa relação passa a configurar o primeiro triângulo amoroso da nossa vida. Aquele quem eu desejo não me deseja. A primeira desilusão amorosa e dor sentimental fica registrada em meu inconsciente.
Em nossas peregrinações amorosas buscamos outra possibilidade de amor. Mas já carregamos essa primeira ferida.
Em torno da dor criamos barreiras e medos que nos assombram a cada vez que nos sentimos envolvidos pelo amor.
Quando notamos alguém que nos ama aquele sinal de alerta inconsciente dispara "CUIDADO, você va se machucar, não se prenda a ninguém".
Esse temor de viver uma história concreta e não idealizada de amor nos congela a alma. Pois nos confere responsabilidade ("tu te torna eternamente responsável por aquele que cativas") e esse sentimento nos apavora. O de não sermos bons o suficientes para preencher o amor dos outros. Diante do amor alheio nossa criança ferida recua e teme viver uma intimidade, o apego e a possibilidade do fracasso, rejieção e abandono.
Já a posição de rejeitado é confortável, pois ficamos num eterno embate com um rival inimigo. Essa raiva misturada com desprezo nos coloca num vitimismo queixoso e paralisante. Ficamos estagnados no tempo e espaço à espera daquela pessoa amada. Perdemos a responsabilidade pela nossa vida e ficamos à mercê de outra pessoa. Dependo dela para ser feliz e não mais de mim.
Do contrário, ser amado me confere uma responsabilidade para com o sentimento alheio que talvez não me sinto preparado. A realidade é sempre desconfortável se comparada com a idealização. E diante da realidade de alguém que me ama também sou colocado diante de meu ressentimento do passado, a sombra irrompe e diz: "Agora seria um bom momento para fazer essa pessoa experimentar um pouco do que eu sofri".
Nessa hora surge o nosso sentimento de desprezo pelo outro, achamos as demonstrações de afeto da pessoa bobas e melosas. O amor dela nos parece tolo e infantil e assumimos a posição dos nossos pais que nos proibiram o amor.
Por isso que quando alguém que desprezávamos desiste e segue em outra direção passamos a valorizar aquela demonstração do passado, pois daí passamos à condição de vítima e já não somos mais responsáveis por corresponder à altura do sentimento alheio.
Amar e ser rejeitado me coloca diante da raiva passiva.
Ser amado me coloca diante da responsabilidade de uma realidade de amor.
E disso dependeria minha felicidade.
Mas no fundo preferimos a fantasia à realidade. A rejeição vitimizada ao amor maduro. Preferimos a infância à vida adulta.
Amar me faz poderoso, ser amado me torna vulnerável. Dar me confere força moral, receber me expõe aos medos e inseguranças.
Por isso é mais fácil amar do que ser amado!
Se minha explicação ficou confusa, por favor perguntem pois quando brota algo assim prefiro escrever...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Conseguir e Querer

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Mais inteiros, plenos e cheios de vida

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Acho estranho nossa mania (humana) de usar termos como "eu não consigo" ou "eu não posso".
Quando alguém me fala isso na terapia eu sempre questiono: mas quem não deixa você fazer isso aí dentro de você?
Quando a pessoa diz "eu não consigo" ela não está assumindo plenamente o que está ocorrendo. Peço para que ela assuma dizendo "eu não quero".
Brinco que ela não conseguiria caso houvesse um alienígena habitando seu interior e tramando contra ela. Na verdade há, a sombra, que é a dimensão não consciente da personalidade e que se não for bem acolhida e compreendida pode causar problemas práticos.
Nós brasileiros temos uma dificuldade tremenda em dizer NÃO às pessoas. Queremos, com nosso excesso de gentileza, atender a tudo e a todos e não gostamos de passar por chatos, grosseiros e coisas do gênero.
Mas porque dizer que não consegue quando na verdade não quer?
Não conseguir é uma maneira passiva de lidar com as decisões, soa como se não fosse você que está agindo naquela situação. Eu não consigo quer dizer "eu não quero, talvez não tente e mesmo se tentar nem sei se quero conseguir". Seria mais honesto dizer "veja bem, nesse momento não quero me comprometer com essa situação".
Mas o que isso muda na prática?
Muda o fato de que nos tornamos mais inteiros, plenos e cheios de vida. Assumimos a autoria de nossa vida e isso promove uma verdadeira sensação de autoconhecimento, autoestima e motivação pessoal.
Então assuma as rédeas da vida em suas mãos!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sexta-feira da paixão

Dizem que Cristo morreu na cruz por nós...

Será que o sofrimento dele nos ensinou algo de fato?

Jesus, o homem, viveu a existência mais encantadora que ele poderia ter vivido.

Dedicou seus últimos anos para viver intensamente, participou de casamentos, almoços, momentos de oração, encontros com pessoas de todos os tipos. Ele conviveu sem problemas com criminosos, prostitutas, milionários, mendigos, reis e moribundos.

Jesus estava disposto a conhecer quem aparecesse no seu caminho, por que não tinha medo de se entregar à vida.

Ele dava a chance de ter bons amigos ao seu lado, sua forma de enxergar o mundo é tão impressionante que não havia ninguém que conseguisse passar por ele sem ser tocado.

O grande milagre de Jesus era caminhar pela Judéia como uma estrela cadente, pois se você tivesse fé no seu desejo, ele se realizaria.

Jesus acreditava em seus próprios desejos, sabia que Deus habitava o seu interior.

Para falar com Deus ele não ajoelhava, apenas consultava seu coração, pois ali estaria o seu tesouro.

Jesus nunca desistiu dos seus objetivos porque não tinha pretensões. Sabia do medo que habita o coração humano, pois de tão humano que era chorou quando Lázaro morreu, sorriu no casamento de Canaã, brincou com as crianças de Betsaida e se banhou alegre no rio Jordão.

Apenas convidava cada um que passava “venha! me siga, não tenha medo do pecado, eles serão perdoados!”

Sua presença de espírito era tão poderosa que multidões se alimentavam de suas palavras como se tivessem nos lábios o pão e o peixe.

Mas no fundo era simples, desde andar descalço nas areias de Jerusalém, até lavar os pés dos amigos íntimos ou freqüentar palácios de reis.

Sua mensagem era sua vida, o amor possível do dia-a-dia, aquele do abraço, do beijo e do incentivo.

A crucificação, portanto, foi só mais um dia de sua vida. Jesus morreu por si mesmo e por isso mesmo nos ensinou a viver nossa própria história com amor ao próximo e fé no fluxo da vida. Do primeiro ao último de nossos dias...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Isabella, Nardoni e Madrasta



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Abrigam "demônios" incontroláveis
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O julgamento de Nardoni e Ana Carolina Jatobá ergue um fantasma antigo da época da morte da menina Isabella: até onde pode ir a ação dos pais contra os filhos.
Quando escrevi sobre o julgamento de Roger Abdelmashi não entrei no mérito jurídico, se é ou não culpado.

Mas escrevo no âmbito da psicologia e o que esse fenômeno de mídia provoca nas pessoas.
Por que um caso desse causa tanta comoção?
Por que mexe com um tema considerado sagrado: o amor dos pais pelos filhos...
Acreditamos instintivamente que um pai e uma mãe garantiriam todo o bem-estar e integridade física, emocional, mental e espiritual da criança.
No entanto, vemos na prática uma série de problemas em torno da educação dos filhos.
Os pais não são perfeitos, são humanos e cheios de limitações como qualquer outra pessoa.
A hierarquia natural de força física, desenvoltura emocional, bagagem intelectual e vivência coloca os filhos numa condição desfavorecida.
Estão sob o jugo dos pais em todos os sentidos. Pais impulsivos, ansiosos e agressivos irão ver na criança impotente uma forma de extravasar suas frustrações, insatisfações e infelicidades. Pais que se mostram excessivamente zelosos e cuidadores também podem correr esse risco.
Nenhum pai ou mãe está isento de cometer exageros em nome de um "amor paternal". Por isso o que aconteceu com Isabella incomoda tanto, cada pai e mãe se vê confrontado com seu próprio desequilíbrio e descontrole.
Mas como não sabem lidar com esses sentimentos projetam na figura de Nardoni e Jatobá sua hostilidade. É mais confortável acusá-los e condená-los do que meditar sobre o próprio papel na educação dos filhos.
Nada a favor ou contra a Ana Jatobá, mas as madrastas são o alvo predileto para projeções das sombras da mãe.
Antes de julgar o caso Isabella procure mergulhar um pouco mais profundo em sua indignação e perceberá que existem camadas no seu inconsciente que abrigam "demônios" incontroláveis.
E sabe por que os pais agridem os filhos? Porque eles sentem que podem... São mais fortes e têm o álibi de "estou só educando".
Diante de minhas palavras muitos pais podem pensar: ele está sendo muito duro ou cair num vitimismo do tipo: errei em tudo na educação do meu filho.
Nenhuma coisa e nem outra são verdadeiras, mas analise no fundo do seu coração: seu filho (apesar de todo o amor que sente) lhe provoca profundas sensações de desconforto, rejeição, impotência e raiva. Tudo natural... Mas se você nega esses sentimentos é provável que vá descarregar sua agressividade num momento inadequado e numa intensidade desproporcional.
Medite e reflita antes de condenar qualquer pessoa no tribunal do seu coração...


sexta-feira, 12 de março de 2010

Vida e morte

Muitas pessoas se vêem com o medo da morte. Atendi uma pessoa que perdeu recentemente uma pessoa muito querida em sua vida, "ela era tudo para mim!". Agora, após um tempo ela própria se via com medo de morrer subitamente como aquela pessoa.
Disse a ela: "você parou para pensar que ela morreu da melhor maneira que poderia morrer?". "Subitamente? Foi terrível!", ela me respondeu. "Sim, subitamente e fazendo coisas muito normais como escovar o dente, pentear o cabelo e prepara-se para dormir, por que não dizer num dia feliz".
Eu e a paciente fomos tomados de espanto com essa visão das coisas (as vezes eu me espanto com as coisas que eu falo). E enquanto eu a atendia e outras idéias surgiam eu próprio me alimentava desse raciocínio.
Como queremos morrer?
Winnicott, famoso psicanalista britânico de atendimento à crianças diz num texto conhecido "Deus, me permita estar vivo quando eu morrer!".
Essa idéia me tocou profundamente quando eu li. Estar vivo e pleno no momento da morte, não é o máximo?
De acordo com sua reação você pode conhecer um pouco a seu respeito e da maneira como vive!
Se você pensou "eu não, ter que deixar tudo que estou fazendo, ainda não realizei nada que queria!". Isso talvez denuncie que você está vivendo excessivamente preocupado com o futuro e pouco atento em como está levando sua vida hoje. Mas seu futuro é resultado de hoje! Contraditório! A pessoa leva uma vida miserável e triste hoje para no futuro colher bons frutos. Lá na frente ela estará tão amarga e desacostumada com o bem-estar que não nem saber e poder usufruir o que conquistou.
Outros pensam "eu queria morrer dormindo". Isso revela que ela quer morrer sem estar presente e evitando todo tipo de desconforto. É provável que viva dormindo agora, evitando qualquer tipo de emoção ou experiência mais forte e significativa.
Notem qual pobre é esse tipo de raciocínio! Como estamos evitando momentos especiais na nossa vida. Como somos previsíveis, conservadores e preconceituosos. Mortos-vivos...
Disse para ela, quando você tiver medo de morrer e seu coração acelerar pelo menos levante da cama e sambe, morra alegre! O riso foi inevitável de nós dois.
Você tem medo de sentir saudade das pessoas caso descubra que existe uma vida do lado de lá?Melhor ter saudade do que rancor. Melhor uma vida que valha a pena do que uma vida arrastada onde você não se sofreu, mas também não gozou nada.
Viver com planos é ótimo, desde que você saiba que uma há cláusula desse plano que diz: "é possível que precise abandonar esse plano a qualquer momento!". Casa, carro, roupa, dinheiro são muito importantes, mas se você não estiver usufruindo a vida enquanto conquista tudo isso eu diria que são apenas distrações inúteis. Distrações que você criou para fugir de si mesmo!
Se você tem algo a dizer diga, se quiser abraçar abrace, se quiser casar case, se quiser ter filhos tenha, se quiser abrir mão disso tudo abra. Coloque a vida em movimento, pois o enigma da morte é revelar de que modo viver até lá. E esse lá pode ser daqui 50 anos ou daqui 5 segundos.
Portanto, saia da frente desse computador agora e vá fazer algo que tenha significado pessoal à você! Se tiver vontade, é claro!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Você é transparente?







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Seu profundo medo de ser

ferido emocionalmente

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Hoje em dia há uma mania de algumas pessoas afirmarem "eu sou transparente, sincero e espontâneo, quem quiser me aguentar que já saiba que eu sou assim! Eu falo o que tiver que falar para quem quiser! Falo na cara!"

Acho estranho isso... Realmente acho...

Tenho até um pouco de dó das pessoas que falam isso... Ou compaixão, sei lá!

Mas quando eu ouço isso eu leio nas entrelinhas "já fui tão machucado pelos outros, estou com medo de não ser amado e por isso eu ataco antes de que alguém me faça algum mal!"

É uma realidade triste que vive esse tipo de pessoa, está sempre desconfiado, tenso e na defensiva. É um desgaste sem tamanho para conseguir imprimir uma personalidade aparentemente espontânea e forte.

Curiosamente ela associa espontaneidade com agressividade, pois o jeito sincero é aquele que só é capaz de falar verdades duras. Na sua maioria, verdades cruéis.

A pretexto de transparência algumas pessoas se tornam sincerocidas, matam o outro com tanta sinceridade. Acreditam (sem perceber) que a unica coisa espontânea que pode sair dela são palavras duras. Como se carregassem uma coisa ruim dentro dela.

É difícil ver essas pessoas dizerem que amam, sentem falta e estão frágeis. Se fossem transparentes esses sentimentos também viriam à tona.

A dificuldade de mostrar sua vulnerabilidade denuncia seu profundo medo de ser ferido emocionalmente. Adotam uma postura na vida que chamamos de contra-fóbica, de tanto medo que tem adotam uma postura extremamente oposta.

O medo de ser rejeitado é tanto que a pessoa escancara seu jeito bélico de ser, na dentro está encolhida morrendo de medo de ser criticada. E se caso for criticada já tem uma contra-crítica na ponta da língua "eu não preciso de você pra nada, você não paga minhas contas, então pouco me importa sua opinião!". Mentira, tudo mentira, pois ela rebate o golpe só para não sentir a dor de ter sido repudiada.

É como se dissessem "sou podre por dentro, ninguém gosta de mim, sendo assim você vai se atrever a gostar de mim?". É como se impusessem uma bateria de testes para que os outros provem que a amam. Após inúmeras "provas de amor" aceitam o candidato.

A pena é que esses candidatos a amigos são sempre pessoas de personalidade frágil, dependente e com uma autoestima no pé. Por essa razão se escondem debaixo do guarda-chuva tempestivo da pessoa "sincera". Melhor ser amigo do que inimigo, elas pensam. Acabarão sendo um penico ao ouvir as verdades duras da boca do sincero, que sempre falará com ar de "estou falando para o seu bem, para você crescer e parar de ser pacato, você tem que se posicionar mais!".

Se os amigos do sincero fossem se posicionar diriam "você é grosseiro, cruel, sarcástico e já me fez chorar muitas vezes, nem sei porque gosto de você, acho que porque eu não tenho um pingo de amor próprio, pois se tivesse eu mandaria você para a p. que o pariu! Quando você vai perceber isso, se tratar e demonstrar carinho sem ser alternado com pancada?"

Você teria orgulho de dizer daqui pra frente que é sincero e transparente?

quinta-feira, 4 de março de 2010

A maior sombra: o eu

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Caminha na terra com a mesma

condição de mortalidade dos demais

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Qual a maior sombra da humanidade?

O desejo de poder. Certamente essa é a maior sombra que todos carregamos e que está fundada numa base simples e comum a humanidade: o sentimento do EU.

É fundamental o sentimento de termos um EU que pensa, age, vive e tem alguma lógica coerente. A capacidade de sentir que eu sou um EU me ajuda a governar meus passos.

No entanto, associado à esse sentimento há outros que marcam o exagero dessa idéia de EU: o exclusivismo e privilégio.

Chamarei esse trio de EU, exclusivismo e privilégio de “EUlândia”. Vivemos nesse parque de diversões desde pequenos. Somos exclusivos da nossa mãe, alimentados, cuidados e acariciados como se fôssemos únicos. Com o tempo descobrimos amargamente que somos mais uma entre várias fontes de satisfação para a mãe. Mas guardamos esse sentimento de nostalgia. Queremos ser exclusivos para tudo e todos, não toleramos dividir atenção e amor.

O privilégio segue na mesma lógica, pois como somos exclusivos precisamos ser prioridade. Basta ver o trânsito paulistano, cada motorista acredita que só ele precisa chegar mais rápido no seu destino. Por isso age como se tivesse preferência em relação aos outros. Quando algo ruim acontece na vida de alguém ela se pergunta “por que eu?”, oras, por que não ela?

Os moradores da “EUlândia” não conseguem ter uma empatia sincera, de realmente se colocar no lugar dos outros. Perdem a noção de que não são os atores principais do filme cósmico. Agem como se estivessem interpretando a saga de suas vidas exclusivas e privilegiadas e que os demais são meros coadjuvantes e figurantes. Peças no seu tabuleiro que podem ser colocadas e retiradas quando quiser.

Todo o sofrimento do “EUlandes” gira em torno de seus fracassos, pois acredita que a vida deveria favorecê-lo frente os demais. Sua lógica competitiva não lhe permite perceber que caminha na terra com a mesma condição de mortalidade dos demais.

Aliás, a morte é um assunto tabu para o morador da “EUlândia”, pois a finitude confronta seus sentimento de privilégio, pois nem ele será poupado de um dia deixar a terra como todos os outros. Feiúra, doença e velhice são temas proibidos porque remetem à decrepitude humana.

O “EUlandes” não pode esperar, é ansioso, controlador, irritado e acredita que se der um jeitinho tudo chega conforme seus desejos. Se é um morador da “EUlândia” competente e persistente ele até pode conseguir alguns resultados e obter sucesso, mas se não for tão bom nisso é capaz que fique depressivo e reclamando que nada sai ao seu gosto.

Essa busca de dominância do EU sobre o mundo e os outros causa tantos problemas de convívio que eu poderia passar horas enumerando eles.

Mas por hora, já está bom! Viva a “EUlândia”!


Ps: sei que fiquei afastado do blog, só estava recarregando as baterias sombrias! Estou de volta!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A rotina e a felicidade

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Nos escondemos do
desconhecido e da felicidade
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Minha profissão de psicólogo me permite observar coisas lindas e assustadoras da natureza humana.
Aliás, quanto mais eu conheço as pessoas e a mim mesmo mais eu acredito que é muito difícil definir qual é o sentido da vida e do universo.
De forma superficial cada pessoa encontra um sentido específico para si mesmo. Alguns buscam no trabalho, outros na família, ainda os que buscam num amor e aqueles que buscam na religião.
Todas essas formas cotidianas de lidar com a realidade são tentativas saudáveis de todos nós lidarmos com o mistério da vida.
Se olharmos mais profundamente se o sentido da vida vai sendo construído na medida que a vida acontece ele não está pré-determinado à priori como muitos pensam. Há tendências e possibilidades, nunca certezas.
Para lidar com a sensação desconfortante desse enigma constante criamos a rotina como forma de demarcar a passagem do tempo.
Acreditamos que é segunda-feira para sentir que algo está começando e que no domingo algo finaliza (oficialmente a semana começa no domingo). No ano também, agora todos estamos com novo fôlego sendo que apenas alguns dias passaram do ano passado.
Por que é tão difícil lidar com a ambigüidade da vida?
Por que é tão doloroso suportar a inconsistência de nossas emoções?
Por que criamos categorias para classificar a experiência humana?
Porque não toleraríamos a vida se não colocássemos tudo numa caixinha.
A vida é realmente um enigma sem resposta. A realidade está a cada minuto sendo tramada pelas mãos de 7 bilhões de pessoas no planeta Terra. As possibilidades estão na escala das trilhões de trilhões de alternativas viáveis.
Não há certeza absoluta. Não podemos garantir nada para o dia seguinte, a hora que vem.
Se no mundo externo é assim que dirá no turbilhão de mudanças do mundo interior.
Cada momento muitos pensamentos, sentimentos, sensações passando por nós.
Amor e ódio, vontade e desânimo, saudade e desprezo caminham juntos no palco de nosso sistema consciente-inconsciente. Sentimentos contraditórios coabitam em nossos corações causando uma profunda sensação de estranhamento.
Para tolerar esses paradoxos criamos a rotina e as verdades absolutas. Nos escondemos do desconhecido e da felicidade. Tememos perder o controle, sair do lugar comum, arriscar o inimaginável. Sedamos a nossa capacidade criativa em nome do conforto.
Conforto esse que é apenas aparente.
O que você escolhe a certeza ou o enigma?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Entrevista no Programa de TV



Pessoal, se puderem assistam no programa
OFICINA DA MENTE
a entrevista que dei para o Humberto Pazian sobre o livro
"Por que fazemos o mal?"
3a feira, dia 12 as 18h...

Beijo a todos