sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fácil amar, difícil ser amado

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Em torno da dor criamos barreiras e
medos que nos assombram
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Você já ouviu alguém lhe confessar? "Eu gosto de uma pessoa que não gosta de mim, e aquela outra que gosta de mim eu não gosto!"
Eu ouço isso o tempo todo na clínica.

E durante anos esse assunto me intrigou "por que presamos quem nos despreza e desprezamos quem nos presa".
Durante um atendimento nessa semana consegui formular melhor meus pensamentos. Vou tentar colocar essas idéias que venho elaborando há anos...
Noto que desejamos ser amados e importantes para alguém. Isso é até obvio. Mas porque exatamente no momento que somos amados algo dentro de nós nos paralisa? E por que gostamos de alguém no exato momento em que nos sintimos rejeitados e isso até intensifica o desejo?
Bem, vamos por parte.
Esse sentimento de amor interrompido é vivido pela primeira vez na relação com os pais. É o primeiro amor proibido e que nos é negado pela cultura, não podemos concretizar nossa intenção amorosa com os pais. A não ser no plano da idealização.
Essa relação passa a configurar o primeiro triângulo amoroso da nossa vida. Aquele quem eu desejo não me deseja. A primeira desilusão amorosa e dor sentimental fica registrada em meu inconsciente.
Em nossas peregrinações amorosas buscamos outra possibilidade de amor. Mas já carregamos essa primeira ferida.
Em torno da dor criamos barreiras e medos que nos assombram a cada vez que nos sentimos envolvidos pelo amor.
Quando notamos alguém que nos ama aquele sinal de alerta inconsciente dispara "CUIDADO, você va se machucar, não se prenda a ninguém".
Esse temor de viver uma história concreta e não idealizada de amor nos congela a alma. Pois nos confere responsabilidade ("tu te torna eternamente responsável por aquele que cativas") e esse sentimento nos apavora. O de não sermos bons o suficientes para preencher o amor dos outros. Diante do amor alheio nossa criança ferida recua e teme viver uma intimidade, o apego e a possibilidade do fracasso, rejieção e abandono.
Já a posição de rejeitado é confortável, pois ficamos num eterno embate com um rival inimigo. Essa raiva misturada com desprezo nos coloca num vitimismo queixoso e paralisante. Ficamos estagnados no tempo e espaço à espera daquela pessoa amada. Perdemos a responsabilidade pela nossa vida e ficamos à mercê de outra pessoa. Dependo dela para ser feliz e não mais de mim.
Do contrário, ser amado me confere uma responsabilidade para com o sentimento alheio que talvez não me sinto preparado. A realidade é sempre desconfortável se comparada com a idealização. E diante da realidade de alguém que me ama também sou colocado diante de meu ressentimento do passado, a sombra irrompe e diz: "Agora seria um bom momento para fazer essa pessoa experimentar um pouco do que eu sofri".
Nessa hora surge o nosso sentimento de desprezo pelo outro, achamos as demonstrações de afeto da pessoa bobas e melosas. O amor dela nos parece tolo e infantil e assumimos a posição dos nossos pais que nos proibiram o amor.
Por isso que quando alguém que desprezávamos desiste e segue em outra direção passamos a valorizar aquela demonstração do passado, pois daí passamos à condição de vítima e já não somos mais responsáveis por corresponder à altura do sentimento alheio.
Amar e ser rejeitado me coloca diante da raiva passiva.
Ser amado me coloca diante da responsabilidade de uma realidade de amor.
E disso dependeria minha felicidade.
Mas no fundo preferimos a fantasia à realidade. A rejeição vitimizada ao amor maduro. Preferimos a infância à vida adulta.
Amar me faz poderoso, ser amado me torna vulnerável. Dar me confere força moral, receber me expõe aos medos e inseguranças.
Por isso é mais fácil amar do que ser amado!
Se minha explicação ficou confusa, por favor perguntem pois quando brota algo assim prefiro escrever...

12 comentários:

  1. Ola Frederico. Vamos lá!Quando palavras tão bem colocadas me inspiram, eu expiro através letras. Isso pra mim é arte, a arte da escrita, da comunicação, a fluência do Bem! Achei interessante a sua discussão, mesmo conhecendo um pouco sobre as leis do amor de Hellinger, e da Psicologia Sistemica, Gestalt (abordagem que atuo na clinica psicologia)você colocou aí um pouco de si, deu a sua cor! Acredito nisso, em pessoas que refletem sobre aquilo que percebem, sentem, leem... não apenas reproduzem, mas ajustam o meio externo ao interno. Eu sei que o AMOR é a base das relações, e que, assim como voce disse, nos faz poderosos. Mas, para isso,precisamos permitir e aceitar esse amor tão forte! Esse amor pode chegar até nós, embora seja, muitas vezes, dolorido sabermos que ja desperdicamos tanto amor, e ate mesmo, o quanto ja sofremos pelo amor que nao damos, pelo amor que nao tivemos enquanto gostariamos de ter. Hoje se tem muitas tecnicas de desenvolvimento pessoal que colaboram com o processo evolutivo amoroso! Refletindo sobre seu texto, colocando um pouco de mim agora: ser amado inclui o outro, e o outro está fora de nós, não esta sob nosso controle. O outro pode ou não nos amar, e talvez por isso voce disse vulnerabilidade (ameaça). Porem, isso só acontece quando ainda há alguma vulnerabilidade interna... Quando a pessoa fica no casulo o tempo suficiente para seu fortalecimento, entra em contato com seus conflitos e os elabora, ela sai de lá e aprende a voar, e predadores (vulnerabilidade), conseguirá alcanca-la, porque ela já sabe voar. Ou seja, não haverá ameaças! Dar oportunidade para o amor, comecando pelo auto-amor é o caminho, pois realmente ele vai saber o melhor caminho para seguir. Vulnerabilidades sempre existirão, mas quando se desenvolve habilidades para tal, elas perdem a força. Isso só acontece quando se vive, deixamos de imaginar e vamos para a ação... a experimentação dos sentimentos, os riscos, é o que nos faz crescer, que nos mostra que além de criança, temos um lado que amadurece a cada dia! Percebo isso em mim, na clinica e em meus amigos. Alguns estão dispostos a ouvir um NÃO do parceiro, outros preferem continuar em seus mundos singulares, garantindo a certeza do seu proprio SIM. A escolha é nossa, de querer repetir historias, ou criar a nossa. Modelos de amor podem ser ajustados a nossa maneira de ser, não precisamos fazer como todos, nem como nossos pais. As portas estão abertas, basta querer entrar, e quando entrar, vasculhar mesmoooooooo... ir até onde conseguir e aprender a diferenciar o que tem em voce que é seu, e o que vem do externo, da ancestralidade que voce teve como modelo e está repetindo.
    O mundo está repleto de bons exemplos de amor, e o melhor deles, é aquele que você alimenta!


    Um abraço Frederico,


    Carinhosamente,

    Luciana Moreira Gonçalves
    luzciana.psi@ig.com.br

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  2. Sensacionaaaal Fred! É isso!! Incrível q essa semana me questionei sobre esse tema!!! Para mim, sua explicação está perfeita para uma auto-análise e uma auto-reflexão...
    Seus textos são sempre muito bons!
    Um super Bjo

    Carol Trindade - Evoluir

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  3. Lu, bela reflexão, vc poderia escrever mais sobre isso. Gostei muito mesmo!
    Frederico Mattos

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  4. Carol
    Obrigado minha querida, é muito bom ser lido por vc tb e poder contribuir!
    Beijão

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Ok Fred,
    Huummmm ! Você quase me convenceu...rs. Eu tentei...rsrs!
    Se algum dia eu tiver a sensação de ser amada ainda nesta encarnação (devo admitir que não acredito mais), vou saber se é mais fácil amar do que ser amada!
    Por enquanto, não posso opinar. Só conheço a experiência de ser rejeitada... e a forma que vem ocorrendo, me faz acreditar que os motivos são outros...
    É claro que é pretensão minha contestar sua teoria, mas...
    Tá bom, prometo pensar no assunto, refletir mais uma vez... Quero acreditar em você!
    Ai, Você acha que sou um caso perdido??? rsrs!
    Cláudia E. Garcia

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  7. Claudia

    De jeito nenhum é caso perdido, a menos que você tenha se perdido de você... rsrsrs
    Beijos
    Frederico Mattos

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  8. Como é bom ler algo tão útil e tão essencial ao ser humano e um tanto quanto fora do óbvio!
    Quem não se sentiu poderoso por amar, ainda que desprezado e talvez invadido por se sentir amado, mesmo que desprezando?
    Uma eterna roda de Samsara?
    Bjs.

    "Nós não precisamos de muita coisa, só precisamos uns dos outros."
    Carlito Maia

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  9. Olá Frederico, belo texto...
    Fiquei muito tocada por ele, o assunto é complexo e sempre atual.
    Amar e não ser amado - nos transmite uma sensação de medo,fracasso e rejeição. Custa-se a aceitar essa situação o que nos torna vulneráveis ao poder do negativismo.
    Amar e ser amado - nos transfere a sensação maravilhosa de flutuar, de viver coisas e sentimentos que não havíamos vivido antes. Uma loucura!!!! Que as vezes também nos fragiliza.
    O que eu posso dizer é que as 2 situações nos deixa atônitos, pois ficamos desnorteados com os sentimentos e emoções que essas sensações nos dá. Acredito que vale muito a pena AMAR.

    Eu acredito muito no AMOR e quero muito viver o AMOR - um amor pleno, terno e sincero, mas que muitas vezes me faz desatinar.

    Enfim...

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  10. Nem tão cativo e nem um pouco responsável...
    Como diz Osho, vão se os amores, fica o amor.
    Amamos tanto alguém, tão idealizado, porém a rejeição ou a realidade, deixa tudo tão pouco ideal. Outros interesses surgem, a vida descontínua continua...
    Certamente dificil viver a dor imensa de amar e não ser amado. De querer tão perto, tão imensamente dentro, alguém que está tão distante de sua vida. É um encontro vazio de seu querer. Não creio que possamos doutrinar o coração, vamos carregando uma impossibilidade de amor inicial, numa expectativa de que se concretize.
    Não é deixar-se estagnar ou de responsabilizar-se pela propria vida, mas o desejo de seguir com a vida em outra direção.
    Nem sempre podemos estar com aqueles que amamos, então a saudade é o amor que fica, daquilo que não vingou.
    Amar, faz bem. Ser amado é um presente. Quando esse encontro ocorre, há um movimento de criação tão intenso, que somente o silêncio fala.
    O que se encontra em ser rejeitado ou rejeitar? O que se encontra em ser amado ou amar? Viver o sonho que só existe dentro de nós?
    Buscamos fora constantes substitutos, sejam pessoas ou atos, para concretizar uma certeza íntima de sermos únicos e especiais?
    Saber mudaria?
    Mas, talvez, ouvir a alma, profundamente, sem querer ser extraordinário ou comum, sentir a quem ferimos e porque,
    afinal, como se sabe, a única revolução possível é a dentro de nós.
    KL.

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  11. Perfeito! Nunca parei pra analisar por esse ângulo. Mas tb acho que às vezes amar requer um pouco de paciência, elaboração (horas e horas pensando em como conquistar). Tudo isso nos dá "algo a fazer". Ou seja, nos entretem, enquanto ser amado já é meio cansativo vazio, pois não precisamos nos esforçar muito. A brincadeira fica chata logo, rs. Somos movidos à novidade e precisamos nos sentir úteis, capazes de conquistar. Eu como mulher tb me sinto assim, quero poder ficar bonita, atrair, seduzir mesmo. E pra isso tenho alvos. Agora, se alguém se encanta sem eu nem mesmo ter planejado, parece tão fácil que não me dará aquela motivação.
    Atualmente estou vivendo isso. Amo muito alguém que ama outra pessoa. E há alguém que me ama muito e que eu não amo, e às vezes (me sinto até mal em falar isso) sinto repulsa de que me ama.
    É complicado, mas sua explicação faz muito sentido. Perfeita!

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