segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Por que a mulher se veste para as outras mulheres?

Você já reparou que as mulheres não se vestem para os homens e sim para as outras mulheres?
Para o homem, a roupa feminina é só um chamariz para que ele queira tirar a roupa em um minuto.
Mas as mulheres se vestem em comparação às outras mulheres. Pensa na opinião de cada amiga e se vai parecer mais bonita que as outras.
E porque ela quer parecer mais bonita que as outras? Para ser alvo de desejo de mais homens, mas sempre em comparação com outras mulheres...
A rivalidade feminina é coisa antiga.


Você já percebeu que raramente uma mulheres solteira é convidada por um casal para sair. A namorada não vai ser louca de sair com uma rival. E o namorado não vai aceitar sair com a concorrente, pois se por algum deslize achar a piada da concorrente mais engraçada que a namorada, ele será punido severamente.
Essa rivalidade nasce da relação da filha menina com a mãe. O primeiro homem que a menina quer chamar a atenção é o pai. Mas ela percebe que não pode beijar o papai como a mamãe beija. Existem limites. Esse pequeno cenário de disputa por atenção exclusiva do homem planta a semente da rivalidade feminina entre as mulheres.
A inveja e rivalidade nascem desse primeiro triângulo amoroso.
Mostrar-se mais interessante para o homem e descartar a mulher rival é a grande motivação das mulheres entre si.
Por isso que as amizades entre mulheres correm muito mais riscos que as amizades entre os homens. Uma mulher é mais capaz de passar por cima de sua amiga para ter o homem que quer.
É quase que um instinto de poder que arrebata a mulher na hora dessa disputa. Às vezes é incontrolável, mas basta a amiga conseguir um namorado e se dizer feliz que aquela inveja visceral toma conta do coração da amiga. Aquele homem proibido passa a ser objeto de idealização. “Se eu não tenho deve ser bom” é a crença sombria.
Não vai descansar enquanto não tiver aquele homem ou um parecido.
Por esses motivos que as mulheres demoram tanto para se trocar.

Escrevi esse texto com o risco de revelar a mais sutil das fragilidades femininas, com o risco de ter a cabeça cortada! Tudo pela psicologia!

Banheiro, coco e sombra

Você pode até achar que este assunto é uma Escatologia do banheiro.
Mas, você já reparou que o assunto banheiro é quase um tema proibido?
É comum a pessoa falar “vou fazer xixi”, mas é raro ouvir “vou fazer coco!”
É curioso, mas percebi que o tema coco é assunto tabu para muitas pessoas. E tudo que é tabu é sombra.
O coco vem sendo alvo de preconceito a muito tempo. É raro ver uma mãe tratando a criança com carinho quando ela faz coco. Ela incentiva até que a criança faça coco no penico, mas só. Depois disso começa uma peregrinação de perseguição ao coco.
Ser chamado de cagão, por exemplo, é uma forma pejorativa de falar que a pessoa é covarde. Portanto, quem faz coco é um fraco.
Posso estar sendo exagerado, mas inúmeras pessoas se confessam na terapia com seus horrores nos banheiro. Sentem vergonha de serem vista na cabine agachadas no ato “humilhante” de defecar.
Alguns fogem de serem vistos entrar no banheiro, outros fazem coco rapidamente para fazer de conta que fizeram xixi.
Muitos evitam os banheiros mais disputados da empresa só para buscar o conforto daqueles banheiros privativos. Para cagar em paz!
Alguns abanam os odores levantados para não serem associados com o fedor do banheiro.
Alguns até deixam que apaguem a luz do banheiro para não ter que gritar timidamente da cabine “tem gente!”
Você deve ter a sua história pessoal com o coco!
Quanta humilhação. E tudo isso por um único motivo: todos somos humanos e carregamos o peso de colocar nosso lixo orgânico para fora. Carregamos sujeiras dentro de nós.
Tudo vergonha e sombra. Não queremos ser associados com imagens de sujeira e mau cheiro. Queremos passar a imagem de limpeza e superioridade pessoal.
Mas você já pensou que Buda, Jesus, Madre Teresa de Calcutá e Gandhi também faziam coco? Isso diminui a grandeza deles?
Talvez você diga que não, ainda que constrangido. Então por que fugir da idéia de que você como qualquer santo ou bandido também senta no vaso?
Faça um favor para si mesmo, aceite sua sombra corporal, vai cagar, em paz!

sábado, 29 de agosto de 2009

Os games e a Sombra

Desde pequeno eu sempre gostei de videogames, o Atari era demais. O tempo passou, e tudo se modernizou. Uma chuva de novos games surgiu.
Lentamente a complexidade e o realismo dos jogos começou a povoar a mente de todos os jovens.
Hoje em dia é impossível imaginar os adolescentes sem os games.
Por que eles passam tanto tempo na frente do computador e TV jogando horas a fio?
Mantêm uma concentração por tanto tempo, mas são incapazes de ficar alguns segundos na frente dos livros...
Antes que eu pareça aquelas tias moralistas vou explicar porque.
Na frente dos computadores os jovens sentem uma sensação incrível de poder, controle e domínio da realidade.
Lá eles mergulham no mundo da sombra, ou seja, podem ser o que quiserem ser, mas não são no mundo real.
Jovens raquíticos se tornam fortes e musculosos.
Meninos sem nenhuma habilidade social se tornam magos e salvadores de povoados.
Frágeis na rua e feras nas máquinas.
No mundo dos games todos liberam seus demônios e fantasmas.
Quem não ficaria fascinado ao se tornar o rei de um império, o grande general de uma missão de alta grandeza, ou chefiar um exército de vampiros.
Poder. Essa é a explicação para horas de jogo a fio.
Você é o melhor jogador de futebol, o maior atirador ou um grande estrategista capaz de ser respeitado em muitos lugares do mundo virtual.
Jovens com grande medo do mundo real, despreparados pelos pais para se defender por conta própria recorrem aos games para sentir uma dose mínima de satisfação pessoal.
Deixar ou não deixar eles por horas no computador?
Deixá-los no mundo virtual seria a coisa mais fácil a ser feita. Mas seria também abandoná-los no mundo de suas inseguranças.
Ajudar o seu filho a ganhar confiança no mundo real e oferecer a ele oportunidades de interagir com pessoas reais é a melhor forma de diminuir a dependência de jogos.
Colocar limites sim, mas oferecer alternativas reais mais prazerosas.
Seria o mesmo que pedir para você adulto abrir mão do seu trabalho sem deixar você de férias.
E se você é viciado em jogos, lembre-se, nada vai substituir o real prazer do toque humano... Arrisque-se na realidade tanto quanto no mundo virtual!

Dia do Psicólogo

Ontem, dia 27 de agosto, comemorou-se o dia do psicólogo.
E eu não seria digno do meu ofício com a sombra se não falar sobre a sombra do psicólogo.
Mas a minha maior sombra como psicólogo é a frase “Nossa, me falaram que você era tão bom, mas ninguém me avisou que você era tão novo! Eu imaginava o Frederico como um senhor velho, com barba e óculos...” Eu respondo: “Não, esse é o Freud, eu sou o Fred”.
Mas as maiores sombras do psicólogo são a onipotência e a loucura.
A tentação de imaginar que você sabe mais sobre o paciente do que ele mesmo é uma grande ilusão. Além disso, imaginar que você pode resolver todos os problemas da pessoa, encontrar todas as respostas e acabar com todo o sofrimento é a candidatura de maior mentiroso do mundo.
Você pode ajudar, amparar, dar suporte e clarear caminhos. Mas resolver não é possível, até porque não existe vida errada para ser resolvida. Toda vida é a melhor possível que a pessoa pode suportar.
A loucura é a outra sombra que sempre ronda os passos do psicólogo. Há pessoas que desafiam a sanidade de qualquer pessoa. Você sente um frio gelado na espinha quando está de frente para a loucura. Sente a sua própria loucura ser tocada no encontro com o outro. O abismo olha para você enquanto você olha para ele.
É somente quando o psicólogo reconhece seus limites e encara sua loucura que se torna capaz de realmente ajudar uma pessoa em sofrimento psíquico.
Salve a loucura!
Parabéns psicólogos do mundo todo e a gratidão por todos os mestres da cura emocional através d a história!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Novela das 8 entre pais e filhos

Há filhos que não vivem sem os pais. É até compreensível, foram criadas desde pequenas por aqueles gigantes cheios de amor, bondade e conhecimento.
Mas estranhamente e bem freqüente são os casos de pais que dependem emocionalmente dos filhos.
É estranho porque, em tese, os pais existiam antes dos filhos muito bem, obrigado.
Mas talvez faltasse algo e uma esperança doentia foi projetada sobre aquele pequeno bebê.
Toda a sombra de fracasso, abandono, rejeição vivida na vida pelos pais é projetada e compensada na relação com os filhos.
“Eu amo minha mãe, mas ela me sufoca. E tenho medo de falar isso e ela ficar magoada. Mas quero ter minhas próprias amigas. Minha mãe quer ser minha amiga exclusiva. Parece que eu virei sua novela diária. Se não falo como foi meu dia ela não se alegra, mas quando conto algo sobre mim eu ouço uma chuva de comentários. Na maioria criticando o que fiz. O resultado final é que me sento insegura e preciso sempre ouvir as opiniões dela”, declarou uma moça de vinte anos para mim.
Muitos pais acabam projetando nos seus filhos seus medos, inseguranças e desejos. Carl Jung já percebia que as sombras não resolvidas dos pais podiam pesar nos ombros dos filhos.
Mas como os pais tem o pretexto de educar os filhos essa manipulação psicológica fica acobertada pela nobre tarefa educativa.
“Ela sempre fala que é par ao meu bem” – fala a mesma garota - “mas no fundo eu sinto uma coisa ruim, até uma inveja dela. Fico triste quando percebo isso!”
Esse cenário é muito comum mãe invejando suas filhas mulheres. No caso com filhos homens as mãe usam da estratégia de dar a ele tudo o que ele quer. Essa mordomia prende o garoto ao lado da mãe por anos à fio.
Normalmente os pais enviam seus filhos para terapia alegando que eles são muito inseguros, tímidos e indecisos. Mal sabem que criaram filhos presos para os seus próprios desejos.
Somente quando os pais podem olhar para suas carências alguma solução real é possível. Caso contrário os filhos podem se sentir dia-a-dia como alvo de mutilações psicológicas.


"Vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem. (...)

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não podem fazê-los como vós, Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas(...) "
Poeta árabe Gibran Kahlil Gibran – em O Profeta

Brigas de casal e discovery channel

A natureza animal apresenta exemplos interessantes de relacionamento.
O mutualismo é quando duas espécies animais diferentes se unem para manter a vida e não conseguem sobreviver sem a outra.
Na protocooperação são duas espécies diferentes em que há benefício para ambas e podem sobreviver independentes. Ex. pássaro palito e crocodilos
O inquilinismo é quando uma espécie usa a outra como hospedeira, mas sem prejuízo para o hospedeiro.
O comensalismo é a associação entre indivíduos de diferentes espécies na qual um aproveita os restos alimentares do outro como a rêmora e o tubarão.
Já o parasitismo é quando o hospedeiro é espoliado pelo inquilino.
No amensalismo o inquilino é capaz de produzir substâncias que inibem o desenvolvimento do outro e até a morte.
Curioso, acho que na espécie humana esse último tipo de relação é muito comum.
Os relacionamentos amorosos começam com a promessa de uma protocooperação (nos ajudaremos como pessoas adultas). No meio do caminho vira um mutualismo desesperado (não vivo sem você). Com o tempo torna-se um inquilinismo (você tem que me sustentar ou fazer tudo por mim) que vira um parasitismo (você me consome) até chegar ao grau máximo de amensalismo (sua presença me faz mal).
O curioso é quando uma das pessoas já não tem nenhum benefício e ainda assim permanece na relação doentia.
Explico o porquê, é a sombra.
Enquanto eu convivo com uma pessoa horrível, desqualificada, incapaz e degenerada ou não preciso olhar para o meu lado horrível, desqualificado, incapaz e degenerado. O contraste é tão gritante que meus defeitos soam suaves e perfumados.
Mas caso eu deixe aquela pessoa doente a minha doença se revela. O homem pacato se torna agressivo longe da mulher intempestiva. A mulher santa enlouquece longe do marido alcoolista.
São partes doentes uma com a outra que se retroalimentam da insanidade mútua.
Cada uma projeta na outra suas características doentias ocultas na sombra.
Ficam anos e anos confortavelmente despejando seu lixo psicológico sobre uma outra pessoa. Nesse ciclo de amensalismo vivem anos até que uma das partes vem à falência e morre, literalmente ou emocionalmente.
O reconhecimento dessa dinâmica na relação é uma das coisas mais difíceis de se reconhecer, mas qualquer solução passa por essa dolorosa consciência...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

QUEM É O SEU ESCRAVO?

Você maltrata alguém?
Provavelmente vai dizer que não.
Mas eu não acredito.
Com certeza você maltrata alguém.
Não existe pessoa no mundo que não tenha sua vítima predileta.
Pode ser uma senhora de 80 anos, sorriso agradável e óculos de grau. Ela também tem seu “escravo pessoal”.
Eu brinco com as pessoas que se acreditam imunes à maldade humana que elas possuem seus escravos pessoais.
O escravo pessoal é aquela pessoa que você raramente, eventualmente, ocasionalmente, freqüentemente ou constantemente trata com indiferença, descaso, desprezo ou até maltrata.
Você certamente não vai descobrir quem é essa pessoa de imediato.
Talvez diga: “eu nunca faria mal à ninguém”.
Mas procura vai! Pelo seu bem e dessa pessoa
É aquela pessoa que você pega no pé, dá lição de moral, manipula e até comanda abertamente.
Essa pessoa tende a ser submissa e obedecer as suas ordens. Normalmente você diz que tem “intimidade” para agir daquele jeito e que ela “não liga”.
Normalmente é uma pessoa próxima como a mãe, o pai, o marido, a esposa, o empregado, os filhos. Mas é alguém que você exerce poder.
Você já vai estar descobrindo agora e dirá: “mas não é por mal!” ou “eu tenho um bom motivo para agir do jeito que ajo” ou “você está exagerando”.
Se você tentar perguntar para a pessoa a opinião dela é provável que ela discorde e diga que você nunca a tratou mal. É mentira dela, no fundo está com medo de você.
Toda pessoa exerce domínio sobre alguém mesmo que seja falecido. A pessoa fica brigando pelo nome de um ente que já morreu ou briga pela honra da família ou por algum acontecimento passado.
Até pode sobrar para o cachorro. Mas com toda certeza você tem aquela pessoa que você “maltrata com amor”.
Se na dúvida não achar pode ter certeza que você é vítima de você mesmo. Você é o seu escravo pessoal que toma as chicotadas na consciência. Sente-se culpado, deprimido ou com medo.
Faça um favor para você e para o mundo, assuma o seu carrasco interior. Assuma também que você tem um instinto perverso por baixo dessa carapaça de bondade e ingenuidade. E pare de maltratar essa pessoa!
Pode respirar aliviado e dizer: eu faço parte da humanidade normal...
E tenha na ponta da língua a resposta: quem é o seu escravo pessoal?

DIABO INTERIOR E A SOMBRA

Esses dias, atendi uma pessoa que se queixava que todas as pessoas a faziam de “besta”.
Essa é coisa mais comum do mundo. Esse é o preço por reprimir aspectos da personalidade: a sombra.
Você Já deve ter visto o mesmo. Quando sua mãe te ensinou que não podia maltratar o amiguinho mas não disse que não era para deixar o amiguinho lhe maltratar.
É quase instintivo, você passa a ter medo de sua agressividade.
A partir desse momento considera qualquer manifestação mais intensa de forma pejorativa. Não é possível bater, gritar, se defender ou matar uma mosca.
Essa criança passa a ser medrosa e reclusa. Quando cresce não sabe se defender ou posicionar em momentos decisivos. Na vida adulta submete-se ao chefe autoritário, ou é domesticado pelo parceiro amoroso.
Quando se torna mãe ou pai seus filhos comandam o lar.
Não consegue seguir à diante com muitos projetos e desiste frente o menor dos obstáculos.
Acusa-se com freqüência de incompetência, burrice e covardia.
Essa pessoa precisa resgatar sua força pessoal que está enterrada na sombra.
Precisa legitimar seu direito a pertencer a espécie humana, existir no planeta Terra e ser um cidadão com direitos civis.
Sua capacidade agressiva adormecida carece uma reanimação total.
É recomendável que até imagine-se cometendo as maiores atrocidades e sentindo o cheiro da crueldade no ar. Lentamente a sua artilharia interna vai se reabilitando e transformando o medo em indignação até que aprenda a reagir frente um problema.
Dali para frente o “diabinho” interno alcança patamares inesperados de realização. A pessoa respira melhor, come melhor e se relaciona melhor.
A vida flui, porque a sombra foi trazida à luz.
Não reprima o seu pestinha interior, ele pode te salvar um dia.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

7 pecados – Preguiça

Era de uma calma nunca vista.
“De alma baiana” – brincavam.
Mas Osmar não se importava com o que os outros pensavam dele. Preferia trabalhar o suficiente para seu sustento, aproveitar o seu tempo livre para fazer absolutamente nada.
Mas há muitas pessoas que prometem para si mesmas que querem férias para fazer nada e fazem muito mais do que antes.
Osmar não. Cumpria rigorosamente seu nada. Fazia nada. Nem um copo que precisasse pegar deixava ali paradinho e matava a sede só olhando a água de longo. “Preguiça só de pensar, me deixe aqui!” Respondia quase sem força para aqueles que tentassem provocar sua reação.
Certa ocasião chegaram alguns rumores de que a mulher de Osmar estivesse se engraçando para um sujeito odiado na comunidade. Os fiéis amigos do simpático preguicinha Osmar chegaram correndo até ele. “Chegou a hora de você tirar a teima, homem! Levanta dessa rede que aquelezinho está se atracando com tua mulher!”. Por alguns segundos, para espanto dos amigos, Osmar arregalou os olhos e perguntou “ela está por perto?”. Afirmaram enfaticamente com a cabeça que sim. “Muito perto?” – perguntou o candidato a traído. Eles disseram “Há duas quadras daqui!”.
Osmar encostou a cabeça na rede, ensaiou um cochilo e disse “muito longe, prefiro ser corno à distância!”

Quando me falam sobre preguiça meu ouvido terapêutico dói. Eu não acredito em preguiça como não acredito na loira do banheiro.
Preguiça foi um nome socialmente aceito para falta de vontade. A maior parte das pessoas não pode dizer que não quer ir trabalhar, sair no dia frio para a balada, ir na igreja aos domingos, ler o livro para a prova. É considerado feio fazer só o que dá prazer e deixar o dever de lado, somos treinados a considerar o trabalho como algo que enobrece o caráter.
Portanto, quando perguntado por que não estudou, rezou, saiu ou trabalho responde: “deu preguiça”. É bonitinho dizer isso e como a tolerância é maior com a preguiça (pois todo mundo tem) a preguiça vai tomando conta.
No fundo gostaríamos de desfrutar do lado bom da vida e deixar o corpo entregue à inércia.
Mas a pressão social é mais forte. No fundo da preguiça tem uma sensação onipotente que grita “faça o que você quer e danem-se os outros”. Mas também não podemos dizer isso e falamos: “preguiça”.
A preguiça também tem cara de covardia frente a um conflito ou conclusão de algum projeto. Enquanto não concluo o projeto eu fico na incerteza de sua qualidade, ao passo que se termino vou ficar exposto à avaliação externa. Em vez de falar que estou com medo de seguir à diante eu lamento: “preguiça”
A preguiça é uma excelente aliada social para sair de situações embaraçosas, pois com o medo de dizer não, eu prefiro dizer “preguiça”.
A solução para a preguiça é você admitir que existem muitas coisas na sua vida que não lhe trazem prazer, pois para aquelas que você tem prazer não há preguiça. E talvez começar a repensar que tipo de vida tem levado você a se deprimir com tanta coisa.
Também é preciso aprender a dizer não e selecionar que tipos de compromissos deve aceitar e se submeter ou não.

Falar de tudo isso me deixa bravo, com uma ira danada, eis o próximo pecado!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O médico e o monstro - Roger Abdelmassih

Esse texto não é conclusivo, pois não se propõe a nenhum julgamento moral do caso Roger Abdelmassih, pois isso cabe ao Superior Tribunal de Justiça.
É apenas um ensaio sobre a sombra psicológica.
O médico ginecologista - um dos maiores epecialistas em reprodução humana - Roger Abdelmassih entrou com pedido de habeas corpus na manhã desta quinta-feira (dia 20) no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele é acusado de estuprar 56 pacientes e está preso desde segunda-feira (dia 17 de agosto) no 40º DP, na Zona Norte de São Paulo.
Conheci pessoalmente o Dr. Roger quando fui fazer uma entrevista com ele para a TV Mundo Maior. Extremamente simpático e afável recebeu toda a equipe da TV com grande gentileza, respondeu todas as perguntas de maneira agradável e de forma muito didática. Afinal, explicar como funciona fertilização in vitro não é a coisa mais fácil do mundo.
Mas a pergunta que as pessoas (e eu também) devem estar se fazendo é: como um médico respeitado e respeitável poderia ser capaz de atos tão bizarros?
O meu objetivo não é emitir nenhum julgamento, pois isso cabe a justiça.
Mas é natural que alguma explicação sobre a mente humana nos ajude a explicar outros casos como esse.
Já falei nesse blog sobre o estudo do psicólogo Philip Zimbardo sobre o Efeito Lúcifer.
Ele fala que todas as pessoas sob certas circunstâncias são plenamente capazes de cometer o mal.
O escritor escocês Robert Louis Stevenson escreveu há 120 anos a história de "The strange case of dr. Jekyll and mr. Hyde", mais popularmente conhecido como o médico e o monstro.
A história narra os tormentos do Dr. Jekyll quando se vê tomado por forças animais, fruto de um experimento químico. O resultado é sua transformação na figura deformada do Mr. Hyde que aterroriza a cidade de Londres e comete vários crimes.
O médico e o monstro é uma bela metáfora da natureza humana. Todos possuem uma faceta agradável e gentil socialmente, mas mantém sob controle uma face obscura no mundo sombrio da personalidade.
Muitos ficam surpresos quando figuras notórias são acusadas de cometer atos contrários à sua imagem pública.
Talvez não seja o caso em questão de Dr. Roger. Mas de uma forma ou de outra as mensagens do mundo oculto da sombra se fazem presentes.
Quando somos acusados por algo que não fizemos é preciso analisar: será que eu seria capaz de fazer isso de que me acusam?
Se a resposta for um enfático NUNCA, talvez a sombra já esteja mais próxima de nos engolir do que pensávamos. Fazer uma análise honesta com a própria consciência pode revelar aspectos de nossa personalidade que nunca antes tinham sido pensados.
Essa é uma maneira simples de manter a sombra mais próxima da consciência e prevenir problemas pessoais mais sérios.
Na maior parte das vezes o mal que cometemos se iniciou de pequenas atitudes aparentemente ingênuas. O mal está mais próximo quanto subestimamos nossa capacidade de prejudicar os outros e encontramos justificativas racionais para certos deslizes. Isso chamamos de negação, como na imagem ao lado.
Ao invés de julgar o Dr. Roger podemos analisar as nossas sombras projetadas sobre ele em relação ao sexo e aos abusos de poder que cometemos na nossa vida.
Analise seriamente a si mesmo antes de julgar os outros...
Descubra o médico e o monstro escondido dentro de você!
Boa reflexão!
"Todo homem tem uma sombra e, quanto menos se incorporar à sua vida consciente, mais escura e densa ela será. De todo modo, ela forma uma trava inconsciente que frustra nossas melhores intenções.”
Carl Gustav Jung

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Por que fazer terapia?

Estou iniciando uma série de artigos sobre a terapia psicológica e seus benefícios nos relacionamentos amorosos, trabalho e família. Mas, antes de tratar desses assuntos, vamos primeiro entender o que é uma terapia e qual a sua importância.
A primeira pergunta que faço para alguém quando vem procurar terapia é: “O que fez você buscar ajuda?”
Às vezes a pessoa responde: “Não sei bem direito como funciona uma terapia, só sei que não consigo mais continuar enfrentando meus problemas sozinho“.
Sem dúvida nenhuma, a terapia individual ou de grupo oferece múltiplos benefícios que cada pessoa pode relatar com o tempo a partir de sua própria experiência.
Como profissional da psicologia, percebo no primeiro momento o alívio da pessoa em poder compartilhar sua história de conquistas e de dor.
A pessoa encontrará um clima de confiança onde possa expor momentos difíceis que passou com uma pessoa estranha ao seu convívio e que, no entanto, irá participar humanamente de novas conclusões sobre a vida.
Desses momentos iniciais seguem outros onde perceberá lentamente outras facetas de sua vida. Perceberá que sua visão da infância terá outro peso na medida que olhar como adulta para si mesma. Os traumas são redimensionados numa sensação mista de dor e surpresa, pois a partir de novas percepções consegue um novo colorido para acontecimentos obscuros do passado.
Olhar para si mesmo de forma contínua sob o olhar do terapeuta e/ou de um grupo de pessoas igualmente bem intencionadas proporciona uma segurança natural de suas próprias capacidades. A autoestima decorrente do autoaceitação de suas próprias fragilidades e vulnerabilidades permite uma nova forma de se relacionar com os outros.
Todo esse processo tem o custo de uma vontade persistente de chegar à raiz dos problemas. A coragem de encarar a si mesmo e os fantasmas do passado produz uma pessoa nova, cheia de disposição, alegria e perspicácia frente os desafios futuros.
Esses são algumas dos muitos benefícios que uma terapia pode proporcionar. Agora cabe a você decidir como será sua jornada terapêutica!
No próximo artigo vamos discutir como a terapia pode beneficiar os relacionamentos amorosos. Não perca!


Texto publicado originalmente no blog do Instituto Evoluir!

Carl Gustav Jung e a Sombra

Na data de 26 de julho de 1875 nascia em Kesswil, Suíça, aquele que viria a ser o grande psiquiatra Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica e do conceito de sombra.
Desde criança teve uma natureza incomum, acreditava-se possuidor de uma dupla personalidade. Uma delas era mais introspectiva, profunda e sábia e a outra estava mais ligada ao mundo externo, social e divertia com os acontecimentos comuns.
Cresceu sob os imperativos de um pai protestante a quem questionava a qualidade cega da fé. E também de uma mãe amorosa, muito sensitiva e dedicada ao lar. Começou a se interessar pela natureza humana e buscou a medicina como forma de ajudar as pessoas.
A psiquiatria foi caindo no seu gosto ao mesmo tempo que os assuntos ocultos o fascinavam. Sua tese final “Sobre a psicologia e a patologia dos fenômenos ditos ocultos” que já há muito presenciava em sua própria casa graças à sensibilidade espiritual de sua mãe.
Concluiu sua formação ao lado do famoso psiquiatra Eugene Bleuler e cuidava dos internos da grande clínica da Burgholzli, especialmente de casos graves.
Utilizou o teste de Associação de Palavras para identificar os complexos psicológicos, que segundo ele interferiam no funcionamento da mente consciente.
Entrou em contato com as idéias de Freud que mais tarde conheceria e se tornaria seu mestre. Freud e Jung tinham mentes tão produtivas que no primeiro encontro passaram mais de treze horas conversando.
As idéias de Jung influenciaram a Psicanálise que nascia para o mundo europeu e norte-americano. Apesar de ter sido presidente do Instituto Internacional de Psicanálise e fiel escudeiro de Freud, Jung passou a entrar em desacordo com o mestre. O rompimento definitivo aconteceu com o lançamento do livro Símbolos de Transformação em que Jung falava abertamente do inconsciente coletivo e da libido como uma força psíquica que ia além do sexo. Essas idéias se chocavam diretamente com Freud.
Jung iniciou um trabalho solitário em busca de uma psicologia profunda. Conseguiu encontrar na mitologia e nas grandes tradições alquimistas grande referencial para seu trabalho com a mente humana.
Notou que haviam padrões psíquicos que se repetiam em várias épocas da história sob feições diferentes a que ele chamou de arquétipo.
Entre os principais arquétipos que ele descobriu um deles foi a Sombra, que se referia a contra-parte escura do ego. A Sombra sempre foi representada nas mitologias como o mal, o demônio, os monstros e tudo o que há de mais repugnante.
É como se o inconsciente coletivo necessitasse de tempos em tempos eleger figuras que personificassem o mal.
Jung costumava saudar as pessoas queridas com uma fala como: “que feliz desgraça você tem para me contar de novo?”. Pois, para ele era necessário trabalhar com as polaridades da felicidade e do sofrimento honrando cada faceta da realidade.
Sua vida foi um exemplo de integridade, pois foi o mais humano dos pensadores do século passado. Tinha personalidade forte e altamente intelectualizada. Viveu um casamento recheado de histórias paralelas com grandes admiradoras e seguidoras. Era um homem espirituoso, cheio de curiosidade e vida.
Produziu até seus oitenta e seis anos quando a morte interrompeu seus últimos escritos que foram uma tentativa de popularizar seus conceitos.
Deixou uma riqueza de conhecimentos para a psicologia, a medicina, a sociologia e a teologia. Criou pontes entre o pensamento oriental e ocidental, o pensamento científico e o espiritualismo.
Faleceu em 06 de junho de 1961 e deixou um inesquecível legado filosófico e humano.

A Morte e A Partida

A belíssima produção cinematográfica japonesa “A Partida” (Okuribito) me tocou essa semana.
O diretor Yojiro Takita conseguiu tratar o tema da morte com rara delicadeza e profundidade.
O personagem principal do filme Daigo Kobayashi precisa conseguir um trabalho para se sustentar após ser dispensado de uma orquestra. Precisa se despedir da orquestra, de seu caro violoncelo e de seu orgulho de homem.
O golpe final é quando ele começa a trabalhar como assistente de um homem que tem um trabalho incomum: ele é acondicionador de mortos.
O acondicionador é aquele que se utiliza de banhos e rezas para cuidar do corpo de uma pessoa falecida enquanto os familiares se despedem antes do sepultamento.
Com grande respeito pelos mortos seu chefe o leva ao universo da grande partida que é o ritual do velório.
Kobayashi precisa quebrar o seu preconceito no contato com os corpos dos falecidos ao mesmo tempo que vai resgatando recordações amargas de sua infância e de sua vida longe do pai.
O desenrolar tocante do filme fica por sua conta de sua análise.
A morte é tratada de uma maneira especial e não piegas.
O filme nos leva a refletir no sentido da vida: como nos preparamos para a morte.
Cheguei numa conclusão quase final (na vida é melhor deixar algumas portas abertas para mudanças) de que a melhor maneira de se preparar para a morte de uma pessoa querida é viver cada minuto do relacionamento de forma especial.
Essa é uma fórmula para a nossa própria morte, viver de tal modo que pudéssemos partir a qualquer momento sem deixar pendências, amarras e assuntos mal-resolvidos.
Difícil encontrar pessoas que vivam com essa filosofia. Deixamos muitos assuntos inacabados, coisas não ditas e promessas não cumpridas. Vivemos pela metade e com a esperança que o tempo, Deus ou o governo venham resolver questões que só a nós pertencem.
Dê um abraço quando seus braços pedirem.
Sorrisos que venham aos lábios.
Afagos que as mãos suplicam.
Beijos que a boca arde.
Palavras que a alma conclame.
Vida que o coração exale.
Não deixe nada para trás e o que ficou para trás deixe onde está.
Culpas pouco representam no resultado final de uma existência.
Dê o melhor hoje, agora mesmo.
Termine de ler esse texto e manifeste o seu melhor para quem estiver por perto.
Pois, a todo momento estamos de partida...
Morrendo a cada instante...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

7 pecados – Inveja

Queria ser tão popular quanto o irmão. Mas se sentia sempre excluído, deixado de lado e renegado.
O irmão sempre pronto para sair, curtir a vida e conquistar as garotas. Ele se sentia desengonçado, cabisbaixo e apegado à mãe.
Algumas vezes, saiam juntos e ficava evidente quem era o mais poderoso. Por isso evitava sentir-se humilhado junto ao irmão.
Preferia suas poucas amizades e seu programas confortáveis de domingo à tarde.
Um certo dia ele convidou-se para participar de um racha, tão habitual ao irmão mais prestigiado.
Ele num carro, o irmão no outro!
Estranhando o pedido da corrida ele aceita, afinal seria divertido animar o irmão pacatão.
O racha terminava num barranco. O irmão pacato freou, o outro seguiu morro abaixo!
Internamente aquele que sobreviveu pensou: “acho que fiz alguma besteira quando tentei arrumar o carro dele ontem à noite!”

Dificilmente alguém denuncia sua inveja publicamente. A inveja é um sentimento considerado vil, baixo e maldoso.
Ninguém anuncia para a amiga: “poxa, esse namorado seu é um gato, inteligente e fiel, to arrancando os cabelos de ódio por ter sido você e não eu que ele escolheu”. Muito menos: “você comprou esse carro? Espero que tenha seguro porque eu estou secando ele até você bater e ficar infeliz!”.
No entanto, sentimos cada um desses impulsos mais desagradáveis nas ocasiões mais inconvenientes com as pessoas que mais gostamos.
Por que isso acontece em todos nós?
Porque nossos desejos não têm moral e nem restrições. O desejo não observa se aquilo que ele quer já tem dono. Pelo contrário, a impossibilidade de obter aquele objeto instiga mais o desejo.
Além disso, quando nosso desejo é frustrado logo vem o desejo de destruir aquilo por despeito. Como um menino que tenta bater na menina depois que foi rejeitado.
A inveja é uma criança birrenta e ressentida contra o sucesso alheio. Incapaz de fazer por si ela tenta destruir concretamente o invejado. Quando não consegue tenta desmerecer a pessoa invejada ou fica com uma tristeza frente o sucesso dos outros.
Quando o invejoso desenvolve a gratidão pela vida e começa construir realizações próprias estará transformando a inveja em evolução.

O próximo pecado da até... pre... gui...ça... de falar

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Edir Macedo e Rede Globo

Interrompo a série de textos sobre os 7 pecados (que tem a ver com esse tema) para tratar do último embate político-religioso do momento.
TV Globo X Igreja Universal do Reino de Deus. Essa briga é antiga, isso não é novidade.
A TV Globo detém o monopólio televisivo, também não é novidade.
A IURD arrecada muito dinheiro com dízimos, coisa batida. Mas o que é novo nessa história é a forma direta que as emissoras têm batido uma na outra usando o tempo e o espaço do público para manter uma rixa ideológica.
Discussões televisivas e religiosas à parte, falemos da sombra dessa história: PODER.
Cada lado conta a sua versão e tenta dissolver a argumentação da outra parte.
Na verdade não se trata nem de política e nem de religião, mas a TV Globo e Edir Macedo brigam por poder.
O poder televisivo movimenta opiniões e massas de pessoas em torno de uma idéia.
Produtos, marcas e empresas são conhecidas e veiculadas nas propagandas. Muito dinheiro é movimentado em torno da telinha.
Quanto mais credibilidade as emissoras tiverem e mais associadas com valores nobres de verdade, justiça e bondade maior é a fidelidade do público.
O movimento de rivalidade da TV Globo e Record é altamente saudável para a descoberto de um novo tipo de diversidade televisiva (mesmo que a Record seja uma cópia do modelo global).
É curioso como a Globo ataca a Record questionando o investimento ilícito da Igreja Universal na emissora. A Record contra-ataca acusando a rival Globo de fraudes na compra da emissora TV Paulista.
Ambas querem destronar a credibilidade e confiabilidade da outra para obter PODER.
O poder é a maior sombra da humanidade. E quanto mais você busca o poder mais ameaçado de perdê-lo você fica. No entanto, recusar o poder também cria problemas.
Para obter poder você precisa desejá-lo ao mesmo tempo em que constrói uma base sólida para que outros talentos estejam agregados em torno do poder.
Aquele que você critica normalmente faz aquilo que você também faz (escondido) ou aquilo que gostaria de fazer.
A Record gostaria de ter o poder que a Rede Globo já tem e a Globo queria ter uma maneira bem fácil de conquistar fiéis e seus dízimos como a Igreja Universal faz.
TV Globo e Edir Macedo, portanto, com tudo o que ambos também têm de bom (não serei impiedoso) são farinha da mesma sombra. E eu que estou falando também... :)
Encerro esse informe televisivo para anunciar o próximo pecado: inveja. Será que isso tem alguma coisa a ver com esse assunto?

7 pecados – Luxúria

Queria provar que podia ser a mulher mais linda de todas. Onde quer que a tendência da moda acenasse ela estaria presente.
De corpo esculpido pela mão de artesãos cirúrgicos deliciava-se a cada cirurgia ao imaginar o novo decote e o olhar de desejo dos homens. "Todos caídos aos meus pés", pensava afoita.
Sua volúpia era tamanha que bastava um homem acenar um flerte que seu instinto disparava e perdia o puder de mulher casada. "Ele me conheceu assim", rebatia mentalmente seus próprios pudores.
Certa manhã saiu para fazer sua corrida habitual, para manter a forma, claro!
Num relance viu-se raptada por um homem truculento que a arrastou para um lugar longe da movimentação matinal.
O pavor desesperado de seus olhos cedeu lugar à uma falsa briga libidinosa com o homem. O desejo do homem tresloucado foi saciado nos braços daquela bela mulher que pensava: "Um homem que realmente me deseja. Finalmente!"

A luxúria é pecado mortal, segundo a Igreja. O desejo sexual que excede a pura necessidade biológica de gerar um filho.
A relação de grande parte das pessoas com o sexo é curiosa: há sempre um desejo misturado com temor.
Não é para menos, sexo é um dos segredos mais bem escondidos que a sociedade tenta preservar de comentários públicos. Sexo mexe com todas as fibras de nosso corpo e alma.
O desejo sexual por natureza é mutante, intenso e infinito. Por esse motivo, imprevisível e assustador. É um movimento interno que não temos controle.
As fantasias sexuais não têm limites e alcançam paisagens absolutamente transgressoras da moral vigente. Pessoas distantes e as vezes próximas e proibidas são naturalmente alvo do desejo.
Deter esse influxo natural é processo trabalhoso. O choque que você teve ao ler o pequeno conto acima naturalmente é fruto das imagens que formulou para dar vida à história. Para repugnar uma história é preciso ter empatia com ela, portanto se colocar no lugar da pessoa. É algo que afronta a capacidade de imaginar um absurdo vivo que mescla desejo, agressão e morte.
No entanto, o desejo sexual sai do mesmo caldeirão que a agressão.
A luxúria, do ponto de vista sombrio, seria a fusão de desejo sexual com a destrutividade. É quando o desejo vai para além do prazer e une-se a dor, a punição e a morte. Daí a patologia sexual.
Não seria de estranhar que a mocinha do conto acima tivesse gostado tanto!

Estou com inveja do próximo pecado!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

7 pecados – Avareza

Adorava sua carteira...
Era daquelas de couro legítimo marrom, "cabe tudo dentro dela" – gabava-se - "ganhei de um homem muito rico".
Cheques, cartões, dinheiro, a foto da família e até um patuá para espantar o olho-gordo. Ele andava com a "carteira de ouro", como chamava, debaixo do braço para cima e para baixo. Desconfiavam que era o único bem de valor que possuía.
Quando falava mexia a carteira para lá e para cá, como uma extensão de suas mãos. "Esconde essa carteira, Manoel, ainda vai chegar o dia que te surrupiam" - alertavam. "Deixa de ruindade companheiro, vira essa boca para lá!" - replicava.
Saindo da padaria como de costume um homem veio pedir informação ao Sr. Manoel e calmamente sorrindo disse: "se você se mexer, gritar ou fizer alarde eu meto um tiro no seu buxo gordo, ande na minha frente até aquele lugar!"
No lugar mais ermo o homem pediu a carteira. "Leva tudo menos minha queridinha" - replicou Manoel. "Você acha que quero um beijo seu, seu gordo burro?"
Quando disse isso Manoel desesperado tirou o isqueiro do bolso e queimou a carteira. Surpreso, o ladrão apenas atirou. Caído no chão Manoel praguejou: "Se pegou fogo, não era de couro legítimo!" e desiludido por tirar uma dúvida cruel de anos, gritou ensanguentado: "Maldição, morri por uma carteira falsa!"

O avarento é o tipo de sujeito estranho, acredita que sempre estão tirando algo dele.
Há tipos de avarentos que ninguém desconfia que o são. Pensa-se que a avareza é privilégio de bens materiais, mas há sujeitos que economizam tudo até a vida.
Aliás, o avarento não economiza, ele sufoca e desidrata os acontecimentos. Tira a seiva vital de cada fato cotidiano e deixa uma paisagem seca e sem gosto à sua volta.
Economiza palavras e fica quase mudo.
Economiza gestos e fica apático.
Economiza sentimentos e fica frio.
Economiza relações e fica solitário.
Economiza amor e fica desumano.
O avarento prefere cair por terra a ter que abrir mão do seu objeto de poder.
Aquilo que ele "poupa" vira seu talismã que o garante de sobrevivência.
No fundo o avarento tem medo da vida.
Seu excesso de precaução é uma forma de evitar o sofrimento inevitável das agruras diárias. O avarento é um medroso existencial.
Só estará livre quando permitir que a vida siga seu fluxo e deixe-se inebriar pelo doce saboroso dos acontecimentos.
Talvez se o Sr. Manoel tivesse pensado assim, ele estaria aqui para contar essa história...

Até o próximo pecado, a luxúria! hummm

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

7 pecados – Gula

Comer...
Nunca se viu prazer tamanho diante de um prato...
Toda a comida do mundo não lhe bastava nos lábios.
Enchia tudo, sem a menor vergonha.
Doces e salgados dançavam simultaneamente na boca gorda e gulosa.
A repreenda dos familiares já não afetava sua vaidade.
Havia assumido suas banhas como quem assume um vestido novo.
Certo dia comera tanto que começou a soluçar. Seu soluço foi se tornando um aflitivo pedido de socorro, mas não era o nome da mãe que chamara e sim o último clamor antes da desdita: lasanha!

A gula foi um dos últimos pecados a serem incorporados aos sete pecados capitais. Talvez porque seja o mais ingênuo e não maldoso dos pecados, ao lado da preguiça, só faz mal ao pecador.
Que faz um sujeito comer para além da necessidade básica de sobrevivência alimentar?
Os neurocientistas já identificaram áreas do cérebro que funcionam como armadilha na cabeça, pare de comer. Para algumas pessoas essa armadilha não funciona, o alarme não soa e o gatilho nunca é puxado.
Comer oferece um prazer inestimável! Regado a boas bebidas e boa companhia comer sempre foi uma satisfação que ia muito além da satisfação biológica.
A sombra por trás da gula é uma: ANSIEDADE.
Ânsia de quê?
De vida.
O guloso anseia a vida que lhe falta. Quer engolir o mundo à sua volta, mas não consegue parar. Ele simplesmente carece de limites internos para sentir-se saciado na vida. O futuro é sempre sua sina. Está aqui e pensando lá. Está lá e pensa acolá.
Há muitos gulosos que não se fartam nos pratos recheados. Há milhares de gulosos absolutamente magros e esbeltos. No entanto, falta-lhes o mesmo: vida.
Quando o guloso consegue olhar para si mesmo e reconhecer que está procurando amor, liberdade, prazer, fé e companhia na comida. Um passo importante foi dado, ele admitiu que não se basta a si mesmo.
Quem dera o nosso amigo da história acima tivesse pedido pela mãe...

Aguarde o próximo pecado, a avareza!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Os 7 pecados

Desde os mais antigos tempos o homem se preocupou com a qualidade de sua relação com a divindade. Para isso instituiu códigos de conduta moral que variaram ao longo do tempo.
Chamou-se de pecado uma transgressão espiritual que ofendesse essas leis morais diante de Deus.
Segundo a Igreja Católica existem os pecados perdoáveis pela confissão e aqueles imperdoáveis e dignos de condenação os pecados capitais.
Foi São Tomás de Aquino que definiu o formato dos sete pecados que conhecemos hoje.
E como falar de pecados sem falar de sombra...
Nos próximos posts eu falarei sobre os 7 pecados, começando pela gula! Ai que fome!




segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vida e Sombra

E se você descobrisse que tudo que você acreditou ter vivido até hoje não é real?
Se suas memórias, lembranças e histórias fossem apenas versões da realidade vivida?
Se percebesse que as pessoas que conheceu, os lugares que esteve e as conversas que travou não foram apenas interpretações do que realmente aconteceu?
De que sua vida não passou de uma sombra do real...
Essa descoberta deixaria qualquer um de cabelos em pé.
Mas a verdade, é que grande parte das pessoas vive a sombra da realidade.
Quando nascemos a percepção que temos do mundo é muito pequena. No entanto, os registros mais fortes vêm dessa fase da vida. Isso quer dizer que as primeiras impressões que guardamos do mundo é resultado de uma infância vulnerável (temos poucos mecanismos de defesa), desprotegida (nossos pais não conseguem nos blindar) e parcial (o sistema neurológico ainda não alcançou o máximo do seu potencial).
No processo de terapia alcançamos sempre um ponto crucial que é rever nossas imagens à respeito de nosso passado.
“Acho que meu pai não gostava de mim!”, “minha mãe me deixou de lado aquele dia”, “fiquei horas de castigo”, “meus pais me aprisionavam naquela casa”, “nunca tive um real momento de felicidade”. Essas são frases típicas que ouço em sessões de terapia individual e de grupo.
Será que o pai não gostava ou é a percepção referente a um evento específico que pode ter sido visto do ponto de vista de uma criança com medo?
Será que a mãe deixou de lado ou teve que sair para atender a uma urgência e não teve tempo e atenção para avisar o filho de sua saída brusca?
Será que ficou horas de castigo ou alguns minutos que pareciam horas?
Ficou aprisionado sem motivo ou os pais queriam preservar de uma vizinhança perigosa?
Nunca teve um momento de felicidade ou prefere guardar apenas imagens tristes para reforçar autoimagem de vítima excluída?
São perguntas que devem ser feitas antes de qualquer afirmação. Por que à partir dessas afirmações é comum a pessoa guardar uma autoimagem de ser abandonado, feio, excluído, agredido e infeliz.
Os estudos da Psicologia da Gestalt comprovaram que a mente humana tem a tendência a completar espaços vazios quando não existe uma lógica aparente como no triângulo imaginário ao lado.
O passado acaba sendo uma sombra difícil de integrar e rever.
Na ausência de uma explicação lógica você tem a tendência natural a completar os espaços vazios com suas sombras.
Em função dessas imagens distorcidas a pessoa toma decisões no presente para evitar chegar ao falso “mesmo resultado” do passado...
O grande erro e ilusão é que passamos a reduzir nossa vida por meio de sombras e ilusões do passado.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Efeito Lúcifer, sombra e mal

O psicólogo americano Philip Zimbardo realizou no ano 1971 um experimento curioso. Selecionou de mais de 200 candidatos apenas 12 jovens com um perfil psicológico saudável e com desempenho social acima de qualquer suspeita.
Seis dos jovens seriam os carcereiros e os outros seis seriam os prisioneiros e deveriam tratar-se como tal. O experimento que deveria ser realizado em duas semanas teve que ser interrompido em seis dias. O motivo foi simples: os jovens carcereiros já estavam submetendo os jovens prisioneiros a pequenos atos de submissão, humilhação e tortura.
Graças a essa análise Zimbardo desenvolveu uma teoria que ele chamou de Efeito Lúcifer.
Baseou seu raciocínio no mito do anjo preferido de Deus que sucumbiu ao orgulho, tentou tomar o posto do altíssimo e por isso foi expulso do céu e condenado ao inferno.
O psicólogo – professor da Universidade de Stanford – notou que pessoas ditas “normais” podem realizar ações maldosas, sob certas circunstâncias, como qualquer pessoa considerada criminosa.
Ele afirma que as pessoas fazem o mal justificadas por uma razão distorcida que favorece os próprios motivos em desfavor dos outros. Realizamos o mal em busca de exercer poder sobre os outros, afirma Zimbardo.
Ele diz que a pessoa comum vai trilhando 7 passos em direção ao mal
1 - Negligenciando a capacidade de fazer o mal, o primeiro pequeno passo
2 - Desumanização dos outros
3 - Auto-preservação no anonimato
4 - Difusão de responsabilidade pessoal por meio de um grupo ou justificativa racional
5 - Obediência cega à autoridade
6 – Falta de crítica a conformidade com normas grupo
7 - Tolerância passiva do mal através da inação ou indiferença
Segundo ele, esse é a escalada da pessoa em direção ao mal.
Essa teoria vai completamente ao encontro da idéia da sombra. A sombra é sempre um aspecto rejeitado e julgado de nossa personalidade como algo mal, desprezível e condenável.
Você agrediria uma pessoa querida?
A resposta imediata seria não.
Mas diante de uma justificativa como abandono, traição e menosprezo você poderia se resguardar moralmente por meio de motivos pessoais a tal agressão. Fiz isso porque fulano mereceu. Aí está aberta a primeira concessão para o chamado mal.
O que você pensa que poderia fazer de mal em nome de um bom motivo?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tempo e a Sombra

Quantas vezes você já se pegou remoendo por causa do futuro?
Eu acho o futuro uma das maiores sombras que existem.
O futuro é aquilo que ainda não aconteceu e, portanto, você não tem controle.
A sombra é aquilo que existe de desconhecido, renegado e negligenciado na sua personalidade.
Como o futuro é uma caixinha de surpresas você pode projetar o que quiser lá.
Catástrofes, desgraças, medos, frustrações, falências, divórcios...

Enfim, tudo que você mais teme encontrar você imagina no futuro.
Essa força que sua mente emprega para imaginar o futuro acaba criando um vácuo onde sua sombra vai se instalar.
Ou seja, o seu maior medo pode se realizar exatamente porque você tem medo que aconteça.
Seria incrível se você pudesse manter o máximo de controle para que sua mente ficasse no presente.
Toda a força contida em você seria o suficiente para concretizar seus projetos aqui-e-agora.
Imaginar mil possibilidades no futuro pode ser interessante caso você esteja elaborando um projeto. Mas, passada a fase de planejamento confie no fluxo da vida e realize o seu melhor no dia de hoje.
Só hoje você pode ter o controle sobre as conseqüências de suas atitudes.
Desfazer a sua sombra que está no futuro é manter a sua mente presente nas pessoas e acontecimentos à sua volta hoje.
O futuro chegará em forma de presente caso você coloque luz na sombra de seu futuro!