Adorava sua carteira...
Era daquelas de couro legítimo marrom, "cabe tudo dentro dela" – gabava-se - "ganhei de um homem muito rico".
Cheques, cartões, dinheiro, a foto da família e até um patuá para espantar o olho-gordo. Ele andava com a "carteira de ouro", como chamava, debaixo do braço para cima e para baixo. Desconfiavam que era o único bem de valor que possuía.
Quando falava mexia a carteira para lá e para cá, como uma extensão de suas mãos. "Esconde essa carteira, Manoel, ainda vai chegar o dia que te surrupiam" - alertavam. "Deixa de ruindade companheiro, vira essa boca para lá!" - replicava.
Saindo da padaria como de costume um homem veio pedir informação ao Sr. Manoel e calmamente sorrindo disse: "se você se mexer, gritar ou fizer alarde eu meto um tiro no seu buxo gordo, ande na minha frente até aquele lugar!"
No lugar mais ermo o homem pediu a carteira. "Leva tudo menos minha queridinha" - replicou Manoel. "Você acha que quero um beijo seu, seu gordo burro?"
Quando disse isso Manoel desesperado tirou o isqueiro do bolso e queimou a carteira. Surpreso, o ladrão apenas atirou. Caído no chão Manoel praguejou: "Se pegou fogo, não era de couro legítimo!" e desiludido por tirar uma dúvida cruel de anos, gritou ensanguentado: "Maldição, morri por uma carteira falsa!"
O avarento é o tipo de sujeito estranho, acredita que sempre estão tirando algo dele.
Há tipos de avarentos que ninguém desconfia que o são. Pensa-se que a avareza é privilégio de bens materiais, mas há sujeitos que economizam tudo até a vida.
Aliás, o avarento não economiza, ele sufoca e desidrata os acontecimentos. Tira a seiva vital de cada fato cotidiano e deixa uma paisagem seca e sem gosto à sua volta.
Economiza palavras e fica quase mudo.
Economiza gestos e fica apático.
Economiza sentimentos e fica frio.
Economiza relações e fica solitário.
Economiza amor e fica desumano.
O avarento prefere cair por terra a ter que abrir mão do seu objeto de poder.
Aquilo que ele "poupa" vira seu talismã que o garante de sobrevivência.
No fundo o avarento tem medo da vida.
Seu excesso de precaução é uma forma de evitar o sofrimento inevitável das agruras diárias. O avarento é um medroso existencial.
Só estará livre quando permitir que a vida siga seu fluxo e deixe-se inebriar pelo doce saboroso dos acontecimentos.
Talvez se o Sr. Manoel tivesse pensado assim, ele estaria aqui para contar essa história...
Até o próximo pecado, a luxúria! hummm
Era daquelas de couro legítimo marrom, "cabe tudo dentro dela" – gabava-se - "ganhei de um homem muito rico".
Cheques, cartões, dinheiro, a foto da família e até um patuá para espantar o olho-gordo. Ele andava com a "carteira de ouro", como chamava, debaixo do braço para cima e para baixo. Desconfiavam que era o único bem de valor que possuía.
Quando falava mexia a carteira para lá e para cá, como uma extensão de suas mãos. "Esconde essa carteira, Manoel, ainda vai chegar o dia que te surrupiam" - alertavam. "Deixa de ruindade companheiro, vira essa boca para lá!" - replicava.
Saindo da padaria como de costume um homem veio pedir informação ao Sr. Manoel e calmamente sorrindo disse: "se você se mexer, gritar ou fizer alarde eu meto um tiro no seu buxo gordo, ande na minha frente até aquele lugar!"
No lugar mais ermo o homem pediu a carteira. "Leva tudo menos minha queridinha" - replicou Manoel. "Você acha que quero um beijo seu, seu gordo burro?"
Quando disse isso Manoel desesperado tirou o isqueiro do bolso e queimou a carteira. Surpreso, o ladrão apenas atirou. Caído no chão Manoel praguejou: "Se pegou fogo, não era de couro legítimo!" e desiludido por tirar uma dúvida cruel de anos, gritou ensanguentado: "Maldição, morri por uma carteira falsa!"
O avarento é o tipo de sujeito estranho, acredita que sempre estão tirando algo dele.
Há tipos de avarentos que ninguém desconfia que o são. Pensa-se que a avareza é privilégio de bens materiais, mas há sujeitos que economizam tudo até a vida.
Aliás, o avarento não economiza, ele sufoca e desidrata os acontecimentos. Tira a seiva vital de cada fato cotidiano e deixa uma paisagem seca e sem gosto à sua volta.
Economiza palavras e fica quase mudo.
Economiza gestos e fica apático.
Economiza sentimentos e fica frio.
Economiza relações e fica solitário.
Economiza amor e fica desumano.
O avarento prefere cair por terra a ter que abrir mão do seu objeto de poder.
Aquilo que ele "poupa" vira seu talismã que o garante de sobrevivência.
No fundo o avarento tem medo da vida.
Seu excesso de precaução é uma forma de evitar o sofrimento inevitável das agruras diárias. O avarento é um medroso existencial.
Só estará livre quando permitir que a vida siga seu fluxo e deixe-se inebriar pelo doce saboroso dos acontecimentos.
Talvez se o Sr. Manoel tivesse pensado assim, ele estaria aqui para contar essa história...
Até o próximo pecado, a luxúria! hummm
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