sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A rotina e a felicidade

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Nos escondemos do
desconhecido e da felicidade
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Minha profissão de psicólogo me permite observar coisas lindas e assustadoras da natureza humana.
Aliás, quanto mais eu conheço as pessoas e a mim mesmo mais eu acredito que é muito difícil definir qual é o sentido da vida e do universo.
De forma superficial cada pessoa encontra um sentido específico para si mesmo. Alguns buscam no trabalho, outros na família, ainda os que buscam num amor e aqueles que buscam na religião.
Todas essas formas cotidianas de lidar com a realidade são tentativas saudáveis de todos nós lidarmos com o mistério da vida.
Se olharmos mais profundamente se o sentido da vida vai sendo construído na medida que a vida acontece ele não está pré-determinado à priori como muitos pensam. Há tendências e possibilidades, nunca certezas.
Para lidar com a sensação desconfortante desse enigma constante criamos a rotina como forma de demarcar a passagem do tempo.
Acreditamos que é segunda-feira para sentir que algo está começando e que no domingo algo finaliza (oficialmente a semana começa no domingo). No ano também, agora todos estamos com novo fôlego sendo que apenas alguns dias passaram do ano passado.
Por que é tão difícil lidar com a ambigüidade da vida?
Por que é tão doloroso suportar a inconsistência de nossas emoções?
Por que criamos categorias para classificar a experiência humana?
Porque não toleraríamos a vida se não colocássemos tudo numa caixinha.
A vida é realmente um enigma sem resposta. A realidade está a cada minuto sendo tramada pelas mãos de 7 bilhões de pessoas no planeta Terra. As possibilidades estão na escala das trilhões de trilhões de alternativas viáveis.
Não há certeza absoluta. Não podemos garantir nada para o dia seguinte, a hora que vem.
Se no mundo externo é assim que dirá no turbilhão de mudanças do mundo interior.
Cada momento muitos pensamentos, sentimentos, sensações passando por nós.
Amor e ódio, vontade e desânimo, saudade e desprezo caminham juntos no palco de nosso sistema consciente-inconsciente. Sentimentos contraditórios coabitam em nossos corações causando uma profunda sensação de estranhamento.
Para tolerar esses paradoxos criamos a rotina e as verdades absolutas. Nos escondemos do desconhecido e da felicidade. Tememos perder o controle, sair do lugar comum, arriscar o inimaginável. Sedamos a nossa capacidade criativa em nome do conforto.
Conforto esse que é apenas aparente.
O que você escolhe a certeza ou o enigma?

5 comentários:

  1. A vida é um enigma mesmo, sempre estamos procurando algo para nos fortalecer e apoiar. Somos criaturas complicadas e carentes...

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  2. Hoje, eu escolho o enigma... mas, para se desprender da vida confortável e "segura" e adentrar ao mundo do desconhecido e imprevisível, é necessário muito mais do que só "o escolher", embora seja o passo mais importante e difícil (na minha opinião, considerando a minha própria história de vida)...

    Pela experiência que tenho vivenciado nos meus últimos meses, incluindo o acompanhamento psicológico, eu vejo que o que me faz abandonar velhos hábitos e velhos esconderijos é muito mais do que só a determinação e ou a persistência propriamente dita, (Pois apertar o botão do controle remoto mais vezes ou com mais força não vai fazer a TV mudar de canal se o controle estiver sem pilha), da mesma maneira, não adiantaria ser persistente e determinado em mudar em me corrigir sem que ao menos eu soubesse o que mudar ou que deve ser corrigido exatamente!

    “Ao meu entendimento, é na verdade quando ganhamos consciência de um mundo a qual fazemos parte (externo), e um mundo interior o qual nos faz parte, que temos grandes possibilidades de mudanças e de crescimento pleno, e saber fazer com que os dois estejam em equilíbrio e em constante sintonia para que nós, como pessoas, possamos estar em contato com nossa essência mais profunda e também possamos ir além de nossas expectativas pessoais“.

    Trabalhar a nós mesmos, no começo é uma grande bagunça de pensamentos, sentimentos e etc.., é como abrir um guarda-roupas que a muito esteve fechado, e começar a tirar tudo de dentro dele. E então você faz a maior bagunça porque só tirando tudo é que nós podemos analisar cada coisa, para decidir o que queremos continuar guardando ou não, mas, é exatamente nessa parte do “reconhecimento e análise” que as coisas ficam doloridas as vezes, porque muitas coisas lá jogadas nos trazem lembranças ou sentimentos ruins ou de alegrias que não temos mais, e por isso acho que é uma fase difícil de se passar sem um acompanhamento, pois a vontade de jogar tudo lá dentro de novo, fechar a porta do guarda-roupas e ir embora é muito grande. Acho essencial um acompanhamento profissional! Caso contrário a probabilidade de fracasso prévio é muito grande. (CONTINUA)...

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  3. (CONTINUAÇÃO)...

    Reconhecer as minhas sombras não têm sido fácil, pois algumas delas estão projetadas em outras pessoas ou são sombras de outras pessoas projetadas em mim, a parte boa é que uma vez identificada eu passo a ter um carinho maior com ela, como se fosse um vicio de minha personalidade que tento corrigir, porém, muitas delas ainda nego de uma forma inconsciente e isso é frustrante, como por exemplo quando fico muito “irritado no trânsito” e eu sei que isso é uma soma de algumas sombras que carrego, como por exemplo: sombras de “Competição e Frustrações Pessoais”... mas no final das contas pra mim é só a velha irritação pelo trânsito... e eu nego que dentro de mim existe uma personalidade de um cara que gosta de competição e principalmente da vitória, e por isso corro quando o semáforo abre, sem motivo, as vezes nem estou com pressa, mas, saio acelerando na frente de todo mundo pra me sentir “o vencedor” e eu sei que nego também o fato de que eu “fecho” algumas pessoas no trânsito ou sou um pouco abusado para me sentir superior, como se ao fechar ou ultrapassar alguém no trânsito eu pudesse ser melhor que ele, sendo assim, me aliviando um pouco do sentimento de inferioridade que as vezes sinto por algumas frustrações pessoais!...


    Enfim, o que consigo concluir é que assim como diz a famosa frase “Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais ainda", mencionada no filme, “O Poderoso Chefão”, é que a solução para muitos ou todos, é manter as sombras por perto e aceita-las, tornar-las parte de nós e integrar o bem e o mal que somos em uma única coisa a qual temos pleno “controle”...

    Este é o meu ponto de vista, uma vez que levei em consideração apenas as coisas pelas quais passei em minha vida e particularidades pessoais... tendo em vista que esta foi a forma que me fez enxergar coisas que estavam obscuras (Olhando para as minhas sombras, entendendo-as e aceitando-as), dentro de mim mesmo, talvez não se aplique da mesma maneira a todas pessoas, sei que cada um tem suas particularidades pessoais, porém, vale a pena tentar interagir com suas sombras, elas dizem muito mais a seu respeito do que você pode ver no espelho... é aí que eu acho que entra a importância de um acompanhamento profissional... só ele vai saber o melhor caminho e os atalhos!

    A todos que buscam algo, seja em quaisquer campos como “Profissional, Pessoal, Relacionamentos ou etc...” entender o conceito de “sombra” é muito essencial...

    Att,
    Renato B.

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  4. É sempre bom lê-lo!
    Entender o caminho nem sempre é difícil, segui-lo, sim! E as (des)culpas que encontramos?!
    Abraço, Frederico!

    joão jacinto

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  5. oi frederico,

    conheci seu blog através do davi dias, um francesinho que fala portugues de portugal!

    gostei muito, quero ler seu livro! E lerei!
    Gostaria de aproveitar para te convidar a assistir o curta metagem V.I.D.A., que é sobre depressão, doença que me acompanha desde a infancia. Assista no site: www.pensamentosfilmados.com.br (na tab curtas, entre no V.I.D.A.).
    parabens pelo trabalho!
    bjoka

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