quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Depressão e Sombra

Normalmente a pessoa deprimida é vista como pessoa frágil, de personalidade delicada, temperamento melindroso e sensível ao menor dos abalos.
Concordo com tudo isso, se a pessoa for analisada na superfície.
A pessoa deprimida é um desafio para a psicologia, pois normalmente é o tipo de pessoa desesperançosa que tenta arrastar quem quer que seja para a areia movediça de seus sentimentos.
Qualquer ajuda é considerada intromissão ou vista como insuficiente. Faz de todos a sua volta escravos de sua tristeza irrecuperável e impotentes frente a tanta dor e sofrimento emocional.
Nas profundezas sombrias, eu digo que o deprimido é o narcisista “que caiu do cavalo”. Explico!
O narcisista é aquele que acredita e sente que o mundo lhe deve favores e que a realidade deve ser torcida e mudada conforme seus gostos e desejos. Nada lhe passa despercebido e todos tem que circular em volta de seus desejos. Deve ser atendido aqui e agora e por todos, sem exceção.
É um mimado de carteirinha.
Mas nem todo narcisista é bem sucedido. Os ricos, bonitos e famosos são tolerados pelo seu dinheiro, glamour e excentricidade. Mas aqueles que estão fora dessa categoria (a maioria) os não-tão-bonitos, nem-tão-ricos e anônimos não são tolerados pela maioria. Fora a família, ninguém suporta as criancices de uma pessoa narcisista.
Pela dificuldade que essa maioria tem de exercer o poder sobre os outros ela percebe que o mundo lhe escapa pelas mãos. E na medida que vai ficando adulta ninguém mais suporta os ataques de birra e estrelismo antes tolerados pela infância.
O resultado é um quadro crescente de depressão. Ou seja, é o narcisista caindo do cavalo, pois o mundo não o serve como ele deseja. Não consegue mais nada como quer e não exerce poder sobre ninguém. Seus sonhos não são realizados magicamente e só com esforço, que ele nunca se dispôs a ter para conseguir o que quer.
Essa maré decrescente vai acumulando insucessos até que a pessoa começa a se queixar de seu fracasso pessoal. De tal forma que realmente os acontecimentos se tornam desastrosos na sua vida.
O quadro final é aquilo que chamamos de depressão: apatia constante, falta de forças emocionais e físicas para seguir em frente, choros ininterruptos e desalento geral no desempenho social.
O psiquiatra Geraldo Ballone comenta em seu site: “busca do gozo e do prazer, o hedonismo dominante da sociedade moderna, quando não está continuamente presente na vida da pessoa, quando não mobiliza para o lazer, quando não se manifesta com extroversão, inquietação ou euforia, acaba causando um estranhamento capaz de fazer pensar em alguma coisa anormal, mórbida, patológica.”
Mas nem sempre a depressão é depressão, mas é um narcisismo fracassado.
A saída para o deprimido é aceitar que é emocionalmente mimada. Coisa rara de acontecer, confesso, mas é o começo da solução.
O segundo passo é exercitar a aceitação do mundo como ele é e não como gostaria que fosse. Depois perceber que ele não é a referência única do planeta Terra e que não tem privilégios frente os outros.
Ainda perceber que o amor é um sentimento de duas mãos, dar e receber. Nem só uma coisa ou só outra.
Por final, aceitar que a ajuda que precisa vem de sua humildade frente a existência humana e que ele é parte da complexidade planetária que precisa de amor tanto quanto ele.

3 comentários:

  1. Muito Legal essa nova visão sobre a depressão.
    Parabéns pelo blog!

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  2. Rafael
    Que bom que tenha gostado!
    Continue acompanhando os textos!
    Abraço

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  3. Ótimo texto, estava precisando.rsrs... Gostei da última frase, e isso me lembra como é bom se sentir útil aos outros e não apenas esperar que alguém venha nos socorrer nos momentos de desalento.

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