segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vida e Sombra

E se você descobrisse que tudo que você acreditou ter vivido até hoje não é real?
Se suas memórias, lembranças e histórias fossem apenas versões da realidade vivida?
Se percebesse que as pessoas que conheceu, os lugares que esteve e as conversas que travou não foram apenas interpretações do que realmente aconteceu?
De que sua vida não passou de uma sombra do real...
Essa descoberta deixaria qualquer um de cabelos em pé.
Mas a verdade, é que grande parte das pessoas vive a sombra da realidade.
Quando nascemos a percepção que temos do mundo é muito pequena. No entanto, os registros mais fortes vêm dessa fase da vida. Isso quer dizer que as primeiras impressões que guardamos do mundo é resultado de uma infância vulnerável (temos poucos mecanismos de defesa), desprotegida (nossos pais não conseguem nos blindar) e parcial (o sistema neurológico ainda não alcançou o máximo do seu potencial).
No processo de terapia alcançamos sempre um ponto crucial que é rever nossas imagens à respeito de nosso passado.
“Acho que meu pai não gostava de mim!”, “minha mãe me deixou de lado aquele dia”, “fiquei horas de castigo”, “meus pais me aprisionavam naquela casa”, “nunca tive um real momento de felicidade”. Essas são frases típicas que ouço em sessões de terapia individual e de grupo.
Será que o pai não gostava ou é a percepção referente a um evento específico que pode ter sido visto do ponto de vista de uma criança com medo?
Será que a mãe deixou de lado ou teve que sair para atender a uma urgência e não teve tempo e atenção para avisar o filho de sua saída brusca?
Será que ficou horas de castigo ou alguns minutos que pareciam horas?
Ficou aprisionado sem motivo ou os pais queriam preservar de uma vizinhança perigosa?
Nunca teve um momento de felicidade ou prefere guardar apenas imagens tristes para reforçar autoimagem de vítima excluída?
São perguntas que devem ser feitas antes de qualquer afirmação. Por que à partir dessas afirmações é comum a pessoa guardar uma autoimagem de ser abandonado, feio, excluído, agredido e infeliz.
Os estudos da Psicologia da Gestalt comprovaram que a mente humana tem a tendência a completar espaços vazios quando não existe uma lógica aparente como no triângulo imaginário ao lado.
O passado acaba sendo uma sombra difícil de integrar e rever.
Na ausência de uma explicação lógica você tem a tendência natural a completar os espaços vazios com suas sombras.
Em função dessas imagens distorcidas a pessoa toma decisões no presente para evitar chegar ao falso “mesmo resultado” do passado...
O grande erro e ilusão é que passamos a reduzir nossa vida por meio de sombras e ilusões do passado.


Um comentário:

  1. Olho para essa imagem e penso no filme mágico de Oz...
    Para Gilles Deleuze não há trajetos ou caminhos definidos pelo inconsciente, o que possibilitaria a cada ser, uma dimensão transcendente. O realidade seria uma multiplicidade de situações, em constante movimento.
    Os caminhos de pedras amarelas nos levariam para muito além de nossas essências singulares...
    Porque a arte da(des)construção um mundo alimenta-se das mais variadas fontes, infinitamente.
    Parabéns,seu texto é belíssimo.

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