segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Palavrão e a Sombra - Parte 3 (última)

Esse é o último artigo sobre palavrão, a mente humana e a sombra.
O insulto CORNUDO ou CHIFRUDO associa a traição com os chifres de animais. Curiosa associação de uma aparente fraqueza da pessoa dispensada ou trocada com os animais de chifre que são em sua maioria símbolos de força, vigor e instintividade. A mácula causada por esse xingamento é o de colocar o homem traído na condição de impotente na competição machista por fêmeas. “Não deu no couro” por isso levou um CHIFRE ou PERUCA DE TOURO. E isso é usado exatamente pelo fato do touro-chifrudo ser o macho que acasala e é viril, enquanto o boi é o macho castrado para ser submisso, servil e pronto para o abate. É uma ironia do termo. O macho viril foi trocado por outro ainda maior. A traição fere o sentimento de sua vítima seja homem ou mulher, mas há uma diferença venal: a traição cometida pelo homem é veladamente aprovada como manifestação de vigor masculino e a feminina é execrada como mal imperdoável e digno de morte.
Existe uma ambigüidade tripla inconsciente nesse insulto. Primeiro, os homens ridicularizam em tom ameno os companheiros do mesmo gênero vítimas do CHIFRE para manifestar consolo já que temem chegar seu dia, segundo, aprovam, pois pode chegar o dia que sobre um pedaço da carne da mulher alheia no seu quintal, traduzindo um estímulo a promiscuidade feminina para facilitar a vida de todos os homens num coletivismo de gênero sórdido (se há o corno, há o RICARDÃO) e terceiro uma desaprovação quanto à cobiça de sua própria parceira. Conflito instalado: ele acolhe ao mesmo tempo que estimula e simultaneamente desaprova.
Por fim analisemos os termos VADIA, VAGABUNDA e GALINHA que desqualificam frontalmente a liberdade de ação sexual das mulheres. Liberdade sexual masculina é natural, a feminina é promiscuidade e safadeza. VADIA e VAGABUNDA associam a prática livre do sexo com parceiros diferentes com a ociosidade de quem não tem o que fazer. É um mandato inconsciente e coletivo “mulheres que não tem o que fazer deitam-se com qualquer um”, mesmo que esse qualquer um possa ser eu.
Linguagem cria realidade e o palavrão denuncia as realidade que rejeitamos, negligenciamos e excluímos de nossa humanidade pessoal.
Sexo e preconceito, portanto ainda estão diretamente ligados. E podemos entender como através de palavrões populares funciona o reino secreto das sombras na mente humana.
Ao falar do sentido oculto de alguns dos principais palavrões utilizados na região sudeste brasileira teve-se o objetivo de esvaziar o sentido de cada termo para que a sombra venha a luz e possamos iluminar nossa humanidade.
Espero que tenha gostado dessa análise sombria dos palavrões...

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