segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Por que damos esmola?

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Nos constrangemos da
nossa própria necessidade interior
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Desde que comecei o trabalho com minhas sombras eu não dou mais esmola.
Por que fiquei desumano? Egoísta? Insensível?
De forma alguma, mas em contato com minhas sombras eu consigo ver além do que meus olhos enxergam.
A mendicância não é uma prática nova. É uma profissão antiga. Em reportagem recente da Veja São Paulo fizeram uma análise de alguns pedintes. Perceberam que eles viviam de forma confortável com as esmolas que recebiam.
Pessoalmente, eu não concordo com esmolas, pois estimula uma prática que não promove evolução real. Prefiro fazer trabalho voluntário e doações para entidades filantrópicas realmente sérias.
Mas a sensação de dar esmola é quase irresistível.
Pelo simples fato de que não conseguimos resistir ao pensamento de que seríamos egoístas caso negássemos uma ajuda a uma pobre pessoa necessitada.
Podemos racionalmente até saber que aquela pessoa é um falso pobre ou aleijado, mas o peso que a culpa tem é capaz de fazer vergar no chão qualquer brutamontes.
Não gostamos de nos sentir mal ou maus. Além disso, na maior parte das vezes nos projetados na figura do necessitado e nos constrangemos da nossa própria necessidade interior. Não conseguimos recusar um pedido de nosso mendigo interior. Aquela parte sombria de nossa personalidade que tem uma voracidade e carência terrível e não pode ouvir um não.
Não falamos não para o pedinte, porque não gostamos de ouvir não da vida.
Você suporta ouvir um não?

5 comentários:

  1. Confortável!
    CONFORTÁVEL!!!...
    ...Sinceramente, se aposentar por invalidez não está nos plano de ninguém, sobreviver com essa aposentadoria menos ainda. Será que esses mendigos estão mesmo tão confortáveis assim.
    E se a esmola não promove uma evolução real, então porque não tentamos conseguir um emprego para um aleijado?
    ...humm, é um pouco difícil né?

    abraço

    Pablo Oyarzún

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  2. Olá Pablo

    Pode parecer estranho o que vou dizer, mas fiz durante algum tempo trabalho com moradores de rua. Na época da faculdade, foi incrível.
    Grande parte da população de moradores da rua é composta de deficientes mentais, doentes psiquiátricos, usuários de álcool ou drogas.
    De maneira nenhuma esse tipo de vida é confortável. De modo algum.
    No entanto, após inúmeras tentativas fracassadas de se adaptarem àquilo que chamamos de vida normal (casa, cama, comida e roupa lavada)essas pessoas já não conseguem habitar o mundo que entendemos como socialmente aceitável.
    A dificuldade de se adaptar com um tipo de cotidiano de trabalho, busca pessoal e vida familiar é tão grande que os moradores de rua, passam a preferir a vida da rua do que a vida em casa.
    Eles até podem expressar verbalmente o desejo por uma vida segura num lar aconchegante, no entanto, muitos que tentam tem uma grande dificuldade de adaptação.
    Outro problema sério é da família do morador de rua. Na sua maioria a família já não suporta conviver com um comportamento desadaptado daquela pessoa, seja em função de sua doença mental ou dependência alcoolica.
    Condenável?
    Mas é um fato, certamente essas pessoas precisam de um apoio multidisciplinar como assistentes sociais, comunidades abrigo, psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e empresas associadas a reabilitação de moradores de rua.
    Mas acima de tudo também é um dever psicológico de cada um olhar para sua sombra de exclusão social que prefere ver o mendigo na rua a vê-lo dentro de si mesmo.
    Enquanto os mendigos estiverem nas ruas, nós conseguiremos suportar nossa hipocrisia de classe média.
    Desculpe se choquei com meu aparente egoísmo. Mas a realidade brasileira merece ações mais efetivas do que dar esmolas ou dar um emprego para uma pessoa que em pouco tempo irá abandonar o emprego e voltar para a rua (pois lhe falta todo outro apoio biopsicossocioespiritual)
    Espero ter esclarecido meu ponto de vista.
    Abraço
    Frederico Mattos

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  3. Olá Frederico
    Concordo com tudo que você disse, apenas não concordo com a generalização.
    A materia de revista que você citou me parece um pouco preconceituosa,... cria certos estereótipos, tipo "pobre só é pobre porque é acomodado".
    Bom sei que esse assunto não é o principal da sua postagem, mas quis comentar isso!

    abraço

    Pablo Oyarzún

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    1. Pablo, a pobreza financeira não seria um estado de pobreza mental que como uma doença afeta a maioria da população? Será que essa pobreza mental leva a hábitos indesejados como a procrastinação e acomodação, o que me diz, concorda?

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