quarta-feira, 15 de julho de 2009

LOST E A SOMBRA


Cheguei tarde ao grupo de lostmaníacos (do aclamado seriado de TV “Lost” ou “Perdidos” exibido pela ABC) e sem arrependimentos pelo atraso até fiquei grato.
Estamos a espera da última e decisiva temporada que será lançada em 2010, enquanto isso eu vou curtindo a 4ª temporada, ainda inédita para mim.


O mais importante é que nunca tinha visto até então algum programa de TV que tivesse retratado tão bem a idéia da sombra quanto este.
A série trata de um grupo de 48 sobreviventes de um vôo que saia da Sidney, Austrália até Los Angeles numa ilha em algum lugar do Oceano Pacífico.
A arquitetura de cada episódio é curiosa. Além das descobertas que os sobreviventes vão fazendo dia-a-dia em relação à ilha (que aliás, são de tirar o fôlego) são reveladas pouco a pouco as histórias individuais de cada sobrevivente até chegar no fatídico vôo.
Estranhamente todos os protagonistas da série carregam uma história secreta que envolve vivências dramáticas em torno de temas como traição, assassinato, rejeição, humilhação, disputas familiares, abandono, suicídio, incesto e loucura. Temas “bem suaves” da realidade humana.
Essa pimenta psicológica vai nos levando de tempos em tempos a rever o comportamento de cada participante na ilha a partir da perspectiva de sua história dolorosa de vida!
A sombra de cada pessoa vai sendo revelada aos poucos. Na ilha eles pouco se comunicam um com o outro e fazem poucas revelações uns para os outros. Cada um, portanto tem uma visão bem superficial do que cada um carrega na sua bagagem existencial. O público privilegiado pode perceber o porquê da intenção e atitude daquele personagem.
Cada pessoa ali traz um segredo, um trauma, algo que nega, rejeita e esconde de si mesmo e dos outros. Mas a ilha de Lost não é qualquer ilha. Ela é uma ilha “mágica” por assim dizer. E nessa magia ela força com que cada personagem seja confrontado com seus maiores medos, dores e traumas. Ninguém fica ileso.
Se alguém tentava evitar a lembrança do pai alcoólatra e negligente este vem como um fantasma reivindicar respeito. Caso uma outra pessoa evite pensar na infância difícil e traumática será arrancada de seu conforto por javalis selvagens que despertem acontecimentos difíceis.
A Ilha de Lost traz a luz da consciência para cada pessoa como nenhuma terapia de choque seria capaz de fazer. Por bem ou por mal ela esfrega a sombra de cada um diante dos olhos, sob pena de morte.
A Ilha obriga que cada pessoa se reconcilie consigo mesmo para poder seguir à diante. Na ilha ninguém permanece o mesmo, pois todos são forçados a quebrar padrões, enfrentar dilemas morais e tomar decisões constantes para manter a sanidade mental e a sobrevivência física.
Passado, presente e futuro vêm à tona com uma força fulminante e quem tentar evitar olhar para si mesmo pode ser engolido pela sua covardia.
Acredito que esse é o movimento natural da vida: que a sombra venha a luz. E a partir dessa luz cada um vai sobreviver mais forte e maduro e deixar seu isolamento existencial de viver isolado em sua ilha pessoal.
Os “perdidos” encontram a si mesmos na Ilha misteriosa!

Um comentário:

  1. Eu vi alguns capítulos da série, a impressão que eu tive era de que estavam mortos e reviviam a sua sombra.

    Um abraço,
    Alvaro

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