quinta-feira, 4 de março de 2010

A maior sombra: o eu

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Caminha na terra com a mesma

condição de mortalidade dos demais

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Qual a maior sombra da humanidade?

O desejo de poder. Certamente essa é a maior sombra que todos carregamos e que está fundada numa base simples e comum a humanidade: o sentimento do EU.

É fundamental o sentimento de termos um EU que pensa, age, vive e tem alguma lógica coerente. A capacidade de sentir que eu sou um EU me ajuda a governar meus passos.

No entanto, associado à esse sentimento há outros que marcam o exagero dessa idéia de EU: o exclusivismo e privilégio.

Chamarei esse trio de EU, exclusivismo e privilégio de “EUlândia”. Vivemos nesse parque de diversões desde pequenos. Somos exclusivos da nossa mãe, alimentados, cuidados e acariciados como se fôssemos únicos. Com o tempo descobrimos amargamente que somos mais uma entre várias fontes de satisfação para a mãe. Mas guardamos esse sentimento de nostalgia. Queremos ser exclusivos para tudo e todos, não toleramos dividir atenção e amor.

O privilégio segue na mesma lógica, pois como somos exclusivos precisamos ser prioridade. Basta ver o trânsito paulistano, cada motorista acredita que só ele precisa chegar mais rápido no seu destino. Por isso age como se tivesse preferência em relação aos outros. Quando algo ruim acontece na vida de alguém ela se pergunta “por que eu?”, oras, por que não ela?

Os moradores da “EUlândia” não conseguem ter uma empatia sincera, de realmente se colocar no lugar dos outros. Perdem a noção de que não são os atores principais do filme cósmico. Agem como se estivessem interpretando a saga de suas vidas exclusivas e privilegiadas e que os demais são meros coadjuvantes e figurantes. Peças no seu tabuleiro que podem ser colocadas e retiradas quando quiser.

Todo o sofrimento do “EUlandes” gira em torno de seus fracassos, pois acredita que a vida deveria favorecê-lo frente os demais. Sua lógica competitiva não lhe permite perceber que caminha na terra com a mesma condição de mortalidade dos demais.

Aliás, a morte é um assunto tabu para o morador da “EUlândia”, pois a finitude confronta seus sentimento de privilégio, pois nem ele será poupado de um dia deixar a terra como todos os outros. Feiúra, doença e velhice são temas proibidos porque remetem à decrepitude humana.

O “EUlandes” não pode esperar, é ansioso, controlador, irritado e acredita que se der um jeitinho tudo chega conforme seus desejos. Se é um morador da “EUlândia” competente e persistente ele até pode conseguir alguns resultados e obter sucesso, mas se não for tão bom nisso é capaz que fique depressivo e reclamando que nada sai ao seu gosto.

Essa busca de dominância do EU sobre o mundo e os outros causa tantos problemas de convívio que eu poderia passar horas enumerando eles.

Mas por hora, já está bom! Viva a “EUlândia”!


Ps: sei que fiquei afastado do blog, só estava recarregando as baterias sombrias! Estou de volta!

Um comentário:

  1. Olá, Frederico!
    Voltei para (re)lê-lo e (re)encontrei-o.
    Sempre muito bom!
    Uma boa semana!
    Abraço,
    jmj

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